domingo, 28 de fevereiro de 2010

Colapso

Despertador toca 40 minutos antes do necessário. Banho quente para esquentar os pés e acordar a mente. Café preto, pão na chapa, requeijão com queijo derretidos, banana com granola, iogurte e uva passa. Desenhos passam na tv. Não são tão bons quanto os que passavam cinco meses atrás. Por que mudam tanto a programação? Sem forças para ir caminhar. O que preciso fazer hoje? Branco. Pânico. Desestímulo, dor, nenhuma resposta. Por que mesmo estou aqui? O que queria antes? E de mim? Nada na mente. Sentimento algum. E não é o vazio. Vontade interrompida de chorar. Mas, pelo quê? Por? Não. Não agora. Pelo quê? Pelo quê? E choro, choro, quero me esconder embaixo da cama suja de pó. Não posso sair hoje, não posso falar com ninguém. Por que alguém apenas não me tira daqui? Lágrimas sem sentido, mas, para baixo, com insistência. Nenhuma resposta, nenhuma razão. A saliva não desce direito, o coração não bate direito, as músicas não salvam, o som da sua voz. Não há calma. O dia passa, como os outros. Os olhos inchados de chorar antes de realmente ter acordado. Impaciência, preguiça, viver não é o bastante. Penso, penso. Ou não. Quero sentir mais, mas não suporto. Fim do dia. Carro na porta de casa. Nenhum sentido. Cama grande. Quarto quente. Sonhos epopéicos. Tv ligada, copo de água, chinelos a postos, porta trancada, vento pelas frestas na janela. Tudo de novo. O medo, a ânsia, a solitária. Despertador toca 70 minutos antes do necessário.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Do blog das perguntas

Milena
Nas melenas de Milena, moram mil caracóis.

São gorduchos e tão exibidos que esbarrar em Milena é tropeçar, primeiro, nas infinitas melenas de mil caracóis.

As melenas, muitíssimas, ocultam a Milena e, no entanto, quem vê as melenas enxerga só caracóis.

Onde, então, encontrar a Milena se a Milena se encontra perdida no meio de tantas melenas e mil caracóis?

Será que, no fundo, a Milena é melena e, em vez de Milena, existam apenas os mil caracóis?

postado por Armando Antenore

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Tudo, tudo, tudo

E quando eu penso em tudo, nas certezas mais certas, nas horas mais felizes, nos encontros mais banais, nos telefonemas interrompidos, nos sonos profundos, na mão na perna, no cabelo grisalho, nas noites de domingo, o sushi, o cinema, o Manhattan Conection, quando eu penso em tudo, tudo parece sinceramente correto, perfeitamente no lugar, alegremente bom. E quando eu penso em tudo que foi, esqueço o quanto eu te odiava tantas vezes, quanto me irritava com as manias, quanto te via egoísta, me via menor, me queria outra, desejava a distância. E quando tenho tudo junto de novo, o que foi e o que somos, quero tudo de novo, quero tudo, a proximidade e a separação, teu corpo e teu silêncio, meu ódio e a necessidade do seu olhar, a cumplicidade e a incompreensão, a incerteza e o medo, a calma e o futuro. E quando peso tudo, decido que vou partir novamente, ir, fugir, correr, sofrer, chorar, mentir, quebrar, sumir, doer até que você saiba listar tudo o que quer de mim, de você, dos outros, do mundo e, claro, de nós.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Não há fé

Às vezes penso que o que tivemos foi único. A união. E que a intensidade com que amamos e odiamos nos diferencia de todass as outras histórias de amor. Mas olho em volta e vejo que fomos feitos do mesmo material que todos os outros romances impossíveis. E eternamente fugazes. Inventados. Nada do que vivemos foi único, não é? Nesse exato momento, enquanto, cansada, eu tento me livrar dos meus pensamentos, você experimenta em outra todas as palavras que já testou em mim. Funcionou, não? O efeito semelhante faz nascer mais uma nova velha história de amor. A-M-O-R. Não. Nós não somos nada especiais. Não somos nada. Não há especialidade no insucesso, não há porque eu esperar que com você seja (ou fosse) diferente. Porque todas as histórias de amor são feitas de fé. Só é isso. A certeza no que não se vê. Fé. E não há fé em nós, assim como não há mais amor por você.