segunda-feira, 25 de outubro de 2004

2004

Domingo, Outubro 31, 2004


Não tenho conseguido escrever, é verdade. Abaixo, uns pensamentos sem qualidade: 
Essa semana, uma amiga minha da faculdade morreu e, como de praxe, isso me incomodou bastante. E eu tenho tentado não remexer em certas dúvidas e questões que eu já tinha abandonado (da onde eu vim? pra onde eu vou?). Difícil. Também tenho tentado não pensar que adiei um papo com ela, como faço sempre com muita gente, e que foi difícil me perdoar por isso. Como todo ser de 20 e poucos anos, não consigo lidar com a finitude da vida. Morte, pra mim, é um tema complicado. Mais complicado ainda é pensar que tem coisas que eu "não posso". Eu REALMENTE sou do tipo de pessoa que acha que pode tudo. Não é só arrogância, é achar que não há nada realmente impossível pra mim. Eu acho que posso colocar um elefante dentro de uma peça minha no Guaíra, eu acho que vou estudar em Cuba, acho que vou conhecer o Tarantino e coisas assim... sim! E daí uma pessoa que tinha te dito "ei, Mi, to com saudade de você... faz tempo que a gente não conversa.." morre e eu não posso fazer absolutamente nada. Isso é muito estranho. Como uma pessoa pode estar aqui e depois não mais? De repente eu descubro o quão pequena eu sou nesse mundo todo. Eu, uma coisinha que, de verdade, não controla nada! Daí você se sente uma peão dentro de um jogo. Só isso, como se alguém tivesse as rédeas de tudo e você fosse calvalgando. A gente pára e pensa "pra quê?", faz aquela cara de paisagem e não encontra a resposta. Cara de paisagem de novo. E de novo. Chora um pouco por causa da pessoa que se foi (pra onde?), promete que vai mudar sua postura com seus outros amigos vivos, faz outra cara de paisagem (que foi revolvida um pouco pelo vento), dorme. Inchada, acorda, volta à rotina, igual como sempre. Merda.
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Quarta-feira, Outubro 27, 2004


Mãos que se tocam. Imagens entrecortadas como filmes, como sonho. Sim, sonham. Sonham em repousar a mão na pele do outro. As imagens são quase reais. Foram, quase. Não sabe. Sentiu frio na pele. Um frio franco. Não buscava esquentá-la. Não buscava nada. Ela ansiava pela franqueza que ele oferrecia. Ansiava pelas mãos. Mãos mudas, francas e frias. Estiveram sentados lado a lado numa proximidade obrigada. "Obrigada!", ela pensa. Ainda não tinha sonhado com o toque da outra derme. Tinha, há tanto tempo, tocado outros tons, tinha tombado num trote, tinha prometido abstenção. Agora quebrara a própria promessa. "Obrigada!", ela diz. "Oi?", ele não entende. Pobre. Não entende o bem que causa. "Não foi nada". Não foi nada que intimamente ela não desejasse, ela admite. As luzes somem, eles resbalam uma vez. Uma vez acontece. Segunda, se afastam. Terceira, se tocam com mais tempo. Quarto. Sonha. Riso matutino inédito. Desperta, obrigada.
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Quinta-feira, Outubro 21, 2004


Estava eu no ônibus, como sempre, lendo meu livro, como sempre, sentada de costas, como sempre. A mulher na minha frente (pausa: ligeirinho, onzeemeiadanoite, só um daqueles ferrinhos separando o meu par de banco do dela): "olha! eles estão brigando!" Um brilho escancarado no olhar sendo disfarçado por um pequeno sorriso se acendeu naquela mulher. Ela se inclinou pra frente, o cotovelo catucava a colega: "olha...". Fiquei envergonhada porque eu também estava encantada com a idéia de saber que tinha (provavelmete) um casal discutindo a alguns bancos do meu. Olhei. Como? Eu não via nada. Voltei pra mulher da minha frente, ela ainda brilhava. Resisti. Voltei ao livro. O Tomas ainda pagava por causa de um artigo que ele escreveu contra os comunistas da Russia, deixava de ser um cirurgião respeitado pra virar lavador de vidros. A mulher irradiava em curiosidade e sadismo. Ah! "A Insustentável Leveza do Ser" apenas uma pessoa que sai de casa de manhã, trabalha, volta pra casa e se incendeia por observar a agonia de um outro ser! Ah! A sinceridade inescrupulosa da massa! Ah! Eu, um ser tão humano como os outros. A que não olha pra briga no trânsito mas imagina centenas de motivos para ela! Olhei, disfaçando, mais uma vez na direção dos raios do olhar da mulher, não vi nada. Volto a ler. O capítulo acaba, o ônibus pára, a mulher desce, não vejo rostos de casais que brigaram. Desço. Volto pra casa e começo a me preocupar com a infinidade de coisas a fazer. Também eu vou dormir cedo, acordar pro trabalho, voltar pra casa e me preocupar com algum grande-nada. Há minutos, pensava que eu tinha mais sorte por não ser o casal que brigava, a mulher que se alegrava, o ônibus. Sou tão pequena quanto. 
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Quarta-feira, Outubro 20, 2004


 

ouvindo - O Velho e o Moço. "Ah, ora, se não sou eu quem mais vai decidir o que é bom pra mim? Dispenso a previsão! Ah, se o que eu sou é também o que eu escolhi ser aceito a condição." 

PS> sim, foi bom pra caramba! e, to resistindo pra não fazer o momento "diarinho", mas, que fique registrado, foi BEM bom! (como SEM-PRE!) 

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Segunda-feira, Outubro 18, 2004


O bom de se ter 1,75m de altura é que quando te chamam de "pequena" você acha o vocativo mais gentil do mundo. 
O mesmo vale para "fofa"! 

ouvindo - Ultimo Romance, Los Hermanos.
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Sábado, Outubro 16, 2004


Ok. Eu confesso: 
Eu tinha uma casquinha (daquelas de ferida de machucado) que eu adorava catucar. Aquelas coisas de criança mesmo. A casquinha tá quase fechando, daí eu ia lá, passava a mão por cima só pra senti-la, daí não conseguia parar, e quando se via, já tinha aberto a ferida de novo. As vezes, a casquinha nem tinha começado a fechar ainda, e eu não resitia e já cutucava. Enfim, a ferida estava sempre exposta e cada vez mais feia, menos acostumada a fechar. 
E tem daqueles amigos nojentos e sádicos que pediam pra tirar a casquinha. Tá, eles nem eram sádicos, mas tiravam a casquinha também. E eu, deixava. 
E aquele machucado não fechava nunca, dava pra ver que era um daqueles antigos e (eu pensava) incuráveis. Eu achava que todo mundo tinha marcas daquelas, e não me importava muito com isso. 
Bem, houve um dia em que eu quis colocar uma roupa nova, um vestidinho leve de verão, que deixava a casquinha bem a vista. Droga! Não era normal ter marcas como aquela. As outras pessoas tinham - se se olhasse bem - pequenos pontos que diziam que algo foi ferido, mas nada como aquele machucado que eu, de certa forma, cultivava. 
Era tudo o que eu precisava pra tomar uma decisão. Eu precisava querer vestir uma roupa nova. Foi tão mais fácil do que eu pensava. Pois, fui na farmácia, comprei mertiolate, algodão, esparadrapo e estou cuidando da ferida. Simples assim. 
Ontem a noite deu uma vontade de cutucar a casquinha, vontade pesada, e eu resisti. Eu, com a roupa nova, com o band-aid que tava em cima da marca.... ixi! junção milagrosa!
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Quinta-feira, Outubro 14, 2004


Algumas vezes eu não entendo que tipo de pessoa eu sou. Por quê, por exemplo, eu sinto ciúmes (isso mesmo!) de pessoas com as quais eu não tenho nada mais que o número do telefone? Quer dizer, coisas que não me pertencem de forma alguma e que ainda assim eu acho que posso querer alguma coisa delas? Por quê, por exemplo, EU QUERO? A minha lista de coisas que desejo é, bem, invejável! E tenho problemas pra escolhas. Quer me ver sem dormir é me dar várias opções pra algum caminho. E já cafuquei esse meu cérebro pra saber onde é que tudo isso começou. Não acho. Nesse momento, tô de bico sentada na frente do computador, esfregando os olhos e pensando onde eu quero chegar? Como eu consigo ficar seis dias em casa e não ler um texto, fazer um trabalho, fazer algo de "útil"? Por que eu não tenho o controle que eu queria sobre mim? Ou, por que eu não perco todo o controle de uma vez e faço algumas outras coisas que também deveriam ser feitas? Muitas vezes eu sinto que preciso de alguém muito forte do meu lado. Alguém que possa estar comigo quando, secretamente, eu desabar. Qualquer pessoa que sinta o mesmo peso que eu, mas que seja forte por nós dois. É isso, hoje, com o olho ardendo, com a unha na boca, com a cara de bunda, eu queria poder desabar.
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Terça-feira, Outubro 12, 2004


Sentimentos de satisfação como os que me aprazem agora são raros. Chegar em casa e descobrir que você está feliz por aquele momento e só, é raro. É raro ter vontade de rir, e só. É raro não estar bobo, nem alcolizado, e ainda assim me sentir bem. Apenas, bem. Bem como quem acorda às 10 da manhã de um sábado de sol e não tem nada marcado pra fazer o dia todo. Bem como quem coloca uma boa música no repeat do som e canta com todo vigor até enjoar. Bem como quem ganha um presente bobo e se satisfaz por ter ganhado algo. Bem como quem ouve um elogio inédito e acredita nele. Bem como se o dia estivesse apenas começando. 
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Eu tenho medo dessas crianças que aparecem na tv e falam que nem adulto, que decoram nomes de capitais do mundo todo, que querem ser médicas da marinha, que dizem que já são modelo e é isso que querem ser quando crescer. 
Eu tenho medo delas, nos shoppings. 
Eu tenho medo quando elas começam a chorar e bater o pé no chão. A cara delas fica vermelha e parece que elas podem explodir a qualquer segundo, até que sua vontade seja atendida! 
É 12 de outubro, dia das bruxas!!
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Sábado, Outubro 09, 2004


Fui num casamento, na quinta, e fiquei me perguntando pra quê tudo aquilo. Estranho, pq sempre achei essas festas lindas, mas, acho que de uma maneira geral, eu tenho me desiludido com muitas questões criadas quando se tem 7 anos de idade (amor, felicidade eterna, principe encantado, blablabla). A festa era estilo judaica e tava bem bonita mesmo (com direito a noiva desesperada levantada em cima da cadeira). E eu me questionando pra quê tudo aquilo. Pra quê? Pra eu ver uma moça grávida, que, durante a cerimônia, sentiu o bebê chutar. Mais que imediatamente, ela olhou pro marido que colocou a mão na sua barriga pra sentir o empurrão da criança. E não é que esse foi um daqueles momentos em que o mundo parou? De repente, não importava mais o casório, a pompa, as pessoas em volta, exceto, o casal grávido. Ela, sentindo os movimentos, olhava apaixonadamente pro marido. E era um casal de seus trinta e poucos, com cara de que estavam a tempos juntos. E ela, apaixonada pelo pai do filho. Não sei se apaixonada pelo homem que ele era, pelas suas façanhas no mundo dos negócios, pela maneira como ele agia, mas, estava apaixonada pelo homem que proprocionou a sua maternidade, aquele sentimento único de ter um ser dentro dela, aquela criaturinha estranha que ela já amava antes mesmo de ela nascer. E no meio de um casamento eu descubro que sim, o amor é possivel, é possivel mesmo sem a festa, mesmo sem a beleza, mesmo sem o brilho, ele é possível. É possível vê-lo, mesmo que ele seja etéreo. Ele está lá. Talvez nem todos consigam, não sei. Talvez aquele casal verdadeiramente não sejam apaixonados, mas, naqueles três minutos, tenho certeza, eles ESTAVAM. E, talvez, bem, talvez o mistério da humanidade seja esse: o amor não é. Ele está. E isso, se certo, pode começar a esclarecer muitas coisas. Ou, talvez, seja uma boa forma de eu me contentar. 
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Terça-feira, Outubro 05, 2004


Imagine que você faça uma mudança radical (no cabelo, por hipótese, apenas). E que todo mundo aceita bem a tal mudança, elogia e tal. Apenas imagine. Imagine que, não satisfeito (a), você resolve ir além. Vai áo além (no cabelereiro, por hipótese novamente) e pede pra aumentar a mudança (seguindo as suposições, cortar um pouco mais o cabelo). E, o que acontece? O resultado é 100% negativo. Em 20 minutos (exemplo, gente) tudo foi por água (tesoura) abaixo. 
Imaginou? 
Então, o que você faria? Cair em prantos me parece uma boa saída!! Mas, não! Vamos pelo caminho mais difícil: 
PEDIR PRESENTE DE DIA DAS CRIANÇAS!! 
Você, caro ouvinte, tem várias opções: 

a) (e já adianto: a mais lógica) espera 2 meses que cresce. enquanto isso, me convida pra ver um filme (em casa), pra jogar dama, indica livros, presenteia a mizinha com alguns... 

b) compra pra mim várias faixinhas, lenços e tic-tacs coloridos ou não. 

c) compra um secador e uma mega escova profissionais. 

d) pode ser uma chapinha mesmo. 

e) me apóia a raspar a cabeça de vez, se encher de piercing e dizer que é estilo. 

f) ajudar a mandar cartas explicativas de aviso para os amigos. 

g) aproveita o visual "homo" e sai comigo, porque masculina desse jeito eu vu acabar atraindo mulheres daqui a pouco. 

h) diz que é coisa da profissão, que estou ensaiando um papel brilhante de homem com um quê de feminilidade. 

i) compra maquiagens mil que ajudam a afinar o rosto. 

j) me manda uma lista de mandingas secretas da sua família para fazer crescer o cabelo mais rápido. 

*** Minha opção única no momento: 
Sorri e diz: FODA-SE!! 

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To com problemas nesse "comentários" de novo... 
alguém que tenha meu email pode me ajudar???
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Domingo, Outubro 03, 2004


Informe cultural: 
Los Hermanos no antigo bingo Ventura (ãhm? ãhm?!!), hoje, Curitiba Art Center, dia 15/10. Tragam a vasilha!! 20 pila a partir de terça nas Livrarias Curitiba!!! (quem vai comigo?? hein?) 

**** 

Sem ironia, os fins são totalmente lícitos: 
"Por que O Poderoso Chefão é tão aclamado?" 
E, por que os homens, em geral, dizem que esse é o top one? 
(vi o Godfather nesse fim de semana tentando entender a mente dos homens...) 

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Rápidos esclarecimentos: 
1- não estou morrendo, não vou me matar, não estou com vontade de cortar os pulsos. 
2- lieson, eu sei que tô te devendo o tal conto aqui. (droga!) eu estou tentando cumprir com todas as coisas que prometi ultimamente. 
3- e, não! eu não votei no cara da calcinha!! 

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Primeiro reconhecimento público: 
02/10/2004 - "ah! você faz cênicas?! tava falando com minha amiga ali, tinha certeza que te conhecia... cê fez uma na rua, né? na santos andrade?" 
Pra mim, um marco histórico!
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Sexta-feira, Outubro 01, 2004


Agora: to sentindo um daqueles mal estar que não tem nome... sei lá... uma não vontade de ir dormir, uma não vontade de encarar os fatos, uma não vontade de nada. Não é dor, não é ressentimento, não é inveja, não são essas coisas... são sentimentos de coisas passadas. São sensações novas de coisas velhas. Uma realidade que não me pertence. A náusea, talvez. Vou fazer minha tese de qualquer coisa sobre a relação da melancolia em Sartre com as peças do Nelson. E dizer, na conclusão, "ok, ainda não me encontrei". E rir por não ser aprovada. É, é tudo beirando o falso. Eu finjo que rio. Finjo que caio. Finjo que vivo. Até eu acredito em mim. Acredito que amo alguém. Acredito, pior, que não amo. Adoro dizer "eu odeio". E deletar email (ou arquivos vazios) de pessoas indesejadas é realmente uma grande terapia. Eu estou confusa agora. Agora mesmo. À uma da manhã. Amanhã vai ter passado. Amanhã vai ser passado. Amanhã eu vou pintar o cabelo, fazer a unha e parecer mais bonita. A noite eu tomo um chocolate quente e vou pra casa com a sensação de ter tido um grande dia. Depois, acordo vazia numa manhã cinzenta de sábado, me peguntando qual é o sentido do mundo e desistir de encontrá-lo no primeiro telefonema. Depois, eu me vejo em lutas que não são em mim mesma. E fico aliviada. Feliz por saber que eu sou mais uma. Apenas mais uma. Um número, uma estatística, qualquer massa que não esse todo que me constitui. Esse encontro de questões, de medos, de pesos. E, por momentos, eu sinto ter encontrado uma direção superior. Sei que preciso de ombros pra esquecer de mim só um pouco. Queria não ser eu mesma todo o tempo. Queria não ter consciência. Queria subir num palco e ser outro ser pulsante por 40 minutos. Queria saber que eu sou tudo, ou, boa parte daquilo que dizem que sou. Queria poder me apoiar nisso de vez em quando. Vai chegar o dia em que as meninas não ficarão mais sozinhas a noite, enquanto choram. É o que dizem. Eu queria ter fé. Acreditar no por quê de tudo. Dizem que existe um. Outros dizem que existem vários. 

"Se você crê em Deus, erga as mãos para os céus e agradeça 
Quando me cobiçou, sem querer acertou na cabeça 
Eu sou sua a lma gêmea, sou sua fêmea, seu par, sua irmã 
Eu sou seu incesto 
Sou igual a você, eu nasci pra você 
Eu não presto, eu não presto 
Traiçoeira e vulgar, sou sem nome e sem lar, sou aquela 
Eu sou filha da rua, eu sou cria da sua costela 
Sou bandida, sou solta na vida, e sob medida pros carinhos seus 
Meu amigo se ajeite comigo e dê graças a Deus. 
Se você crê em Deus encaminhe p'ros céus uma prece 
E agradeça ao Senhor, você tem o amor que merece." 
(cantando na cabeça, Sob Medida, do Chico.)