domingo, 25 de junho de 2006

2006

Sábado, Junho 24, 2006


Ela saiu de casa e decidiu não voltar mais. Não tinha saído com as roupas, os livros, a escova de dentes porque achou que mais uma vez seria perda de tempo, ia arrumar tudo, jurar que nunca mais voltaria para aquele lugar e não passaria da esquina de casa. Hoje ela foi bem mais realista e só pegou a carteira, o celular e o Halls. Decidiu ir ao cinema, ao parque, às compras, à casa vazia da avó, ao restaurante de comida italiana, dormir na casa de passagem, passear nas ruas vazias de domingo e quando viu estava bastante distante para não precisar voltar. 
Hoje ela viu que não voltaria mais, mesmo sabendo que sentiria falta do cachorro, do perfume que ganhou do tio quando viajou pra Paris. Seu telefone não tocou e em três dias ele ficou sem bateria. Sua última conexão com aquela vida estava desfeita e ela, no fundo, também. Não estava fortalecida mais do que imaginou que estaria, não tinha forças extras pra prestar ao mundo a atenção necessária. Se não tivesse uma farta conta no banco, talvez algo a fizesse voltar atrás, talvez se o telefone tivesse tocado ou alguém tivesse trombado na rua, sem querer, convidasse para um café e falasse coisas enviadas pelos deuses. Talvez se ele aparecesse em um programa de tevê pedindo desculpas. Talvez se ele entendesse sua imperfeição. Mas as esperanças não vinham e os dias passavam rápido sem que nada fosse feito. Algo muito maior do que era possível de se pensar. Um não-acontecer inesperado, um descaso da vida, a realidade injusta. Nada aconteceu depois da saída, nem uma nota no jornal da tarde, nem um pensamento captado pelo inconsciente. 
A realidade. Aquela que aparece para alguns e mostra que não é possível ser feliz, ser completo, ser humano, ser celestial. A realidade. Aquela que é temida, ignorada e imprevisível. Os dias passaram como passou o dia de hoje. Os dias não ligaram para ela e não permitiram que ela sofresse mais nem que sofresse menos. Os dias passaram sem olhar pra ela, ignorando a sua existência como faz com todos aqueles que o reconhecessem. A realidade chegou. 

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Terça-feira, Junho 06, 2006


Chegamos ao fim, não é? Ao inevitável fim. O fim anunciado, que começou há semanas e que eu temei em não vê-lo. Enfim, chegamos aqui. Enfim chegamos onde sempre soubemos que chegaríamos. E nos vemos sem mais ardor, deitamos juntos sem maiores comentários, analisamos a nossa vida pelo o que ela será adiante. Não importa o tempo passado. Pensamos nas coisas práticas e a separação não é prática. O que é o amor, não é? Uma acomodação premeditada, irrealidade sabida. 
Eu chorei porque sei que a tua lembrança vai me doer, porque vou querer falar com você e o telefone estará ocupado. Vou chorar porque cada passo a caminho do retorno a mim mesma já é conhecido, cada música que vai tocar e cada filme que vou ver. E vou voltar a escrever, encontrar os amigos e dormir cedo aos domingos. 
Chegamos mesmo ao fim, não é? Eu já esperava por isso e ainda assim estou surpresa, apesar de você nunca ter sido bom em surpreender. Eu sabia que eu acabaria daquele mesmo jeito, e foi por isso que quis respeitar sua memória desde sempre. Nunca entendi como aquilo terminou e acreditei no teu desinteresse repentino. E mais uma vez a história se repetiu. Pra mim, pra você. Eu busquei você para dessa vez errar diferente, fiz muito para te manter perto e telefonei quando quis te falar. Fui à sua casa, ao seu trabalho. Quis prolongar o nosso tempo, mas chegamos mesmo ao fim, não é?