domingo, 20 de dezembro de 2009

Psyco

Sonhei há duas noites com um jacaré que picava o meu pé. Noite passada, sonhei com elevadores que passavam por uma turbulência e depois caíam de uma altura curta, a mesma, mais ou menos, do muro onde eu estava pendurada tentando fugir do jacaré. Esta noite sonhei que voltávamos a viver juntos. Mas, ao contrário do que eu desejava, a vida não era boa, nós não nos amávamos e aquilo era mera formalidade. Você ainda não me ouvia, não sabia reconhecer as pequenas coisas, não percebia a presença e continuava sozinho, mesmo que eu estivesse ali. Hoje estou psicótica, maníaca. Pensamentos repetidos, ideias que insistem em voltar, obsessão. Hoje eu não conversei com ninguém e quis chorar dentro do ônibus porque estou completamente sozinha. Certeza de suicida. Tudo ia continuar normal... Você ia continuar só com vc, nada muda. Saudade de um tempo curto. Saudade de gostar do Natal. Necessidade de colo de um estranho. Esta noite não vou dormir. Não vou precisar.

sábado, 21 de novembro de 2009

Ausência constante

A ausência dele era uma das presenças constantes. Ela acordava cedo, trabalhava muito, suava pra esquecer, corria pra apagar, enchia a cabeça. Mas a ausência a acompanhava. Hoje, pegou uma mala verde e encheu de roupas limpas. Decidiu ir para longe antes mesmo que pudesse ter certeza que aquilo não era uma boa ideia. Dentro do carro, pegou o telefone para deixar uma última mensagem para quando a ausência aparecesse. E aconteceu. Daquelas coincidências que, ela sabia, prendem a criatura numa maldição sem nome e transforma as manhãs solitárias em pesos ainda mais difíceis de carregar. E, com uma voz boba, um tom inseguro e nada que pudesse fazê-la mudar de planos. Mas mudou. Esqueceu o que estava fazendo dentro do carro, o post-it grudado no computador "acabou", esqueceu a motivação e acordou sozinha de novo, para mais quanto tempo ela nao sabia. Ausência constante.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

The origin of love



Vi uma peça hoje e saí pensando em mil coisas. Conheci um trecho do filme "Hedwig" também, que é necessário ser visto para que o blablabla todo faça sentido. Eles contam da origem do amor, uma história que está nos Diálogos do Platão, mas que a música resume bem, além de ser estranha e meio brega - o que torna tudo melhor. É bonito, bem bonito. Pra quem acredita no amor. "Ai de mim", como disse a tal moça de Prometeu Acorrentado.
Antes do amor, existia um ser que era dois, mas como estávamos muito fortes, os deuses nos diminuíram pela metade e hoje sentimos essa dor de estar/ser incompletos. Eles sabem que sozinhos, somos fracos.
E o umbigo, a prova de tudo? Muitas ideias. Pra quem acredita no amor.




quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Vai passar nessa avenida

Se este blog anda parado, a culpa é da nova vida. Muitos trabalhos e poucos acontecimentos. Os sentimentos são os mesmos, melancolia às vezes, risadas sem sentido umas outras, inércia dominante. A vida não acontece dentro destas quatro paredes que, as 0h07 de uma terça-feira, ainda me impelem a escrever. Escreva. Leia. Revise. A vida pode esperar. Lá fora o dia não passa, os pássaros não voam e os ipês que eu tanto gostei ainda não vão florescer. Quem sabe sábado, ou quem sabe semana que vem. Aqui dentro, a vida é só uma mentira enquadrada nos manuais.

domingo, 20 de setembro de 2009

Come on home


Embora meu amor viva em um lugar onde eu não possa estar agora, eu descobri que gosto de viver sozinha, gosto da vida com esta solidão dominical, e estou exatamente onde queria estar. So you. Isso acaba comigo e faz eu me sentir ferida como nunca. Eu gosto de me sentir no limite. Gosto de estar insatisfeita, eu preciso de sempre mais. Então, por favor, volte pra casa. Você sabe que está onde quer estar. Estamos correndo atrás de tudo o que quisemos, não é? E eu o substituo. Facilmente, pateticamente. Eu flerto com qualquer um que estiver no meu caminho. Gosto de viver sozinha. Venha pra casa. Eu precisei de você ainda hoje e você (não?) estava perto. É melhor não esquecermos o quanto somos fortes, so bloody strong. Estamos onde sempre quisemos, mesmo estamos longe. Eu não posso esquecer isso. Embora você esteja inalcansável.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Adeus você

Escreveu meu amigo Marcos:
Separar muitas vezes é o melhor modo de se manter um pouco de dignidade. Você tem que deixar ir embora porque de qualquer jeito vai dar errado. É o que o carinha faz no filme. É o que a gente tem que fazer na vida. Tem que deixar ir embora o que te faz mal. Cortar totalmente. Assim como se corta o McDonalds da dieta quando o colesterol está alto demais e prestes a nos fazer explodir.
Uma banda que eu amo também já disse isso.
Mas tem gente que não aprende mesmo, né?

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Prognóstico

Decidi te tratar como uma doença contagiosa. Quanto mais eu falo de você, mas você se espalha pelo meu corpo e toma conta das minhas funções vitais. Decidi ir ao médico pedir algo que anule sua influência sobre minha sanidade. Decidi que extinguiria qualquer mancha causada pela sua doença, qualquer memória física que tenha sobrado que você já foi. Decidi acabar com as prazerosas alucinações. Que viveria bem mesmo se você fosse maligno e mesmo que tivesse que escrever coisas só para me convencer que sem você a vida ainda é divertida e brilhante. O tratamento não vai ser doloroso. Talvez eu precise mudar a cor dos meus cabelos ou tomar algumas doses extras de tequila três vezes por semana. Tudo vai depender da evolução do meu quadro clínico. Ou talvez tudo melhore com só um telefonema.

sábado, 15 de agosto de 2009

Tudo como sempre



Ligou pra ela numa noite qualquer e confessou o que todos sabiam. Não tinha acabado. Nada mudou na sua vida, não refez os planos nem imaginou que a felicidade poderia ter voltado. Era um desses momentos em que a vida pode mudar radicalmente. Não é um dia especial, não é um dia de arco-íris, nada é diferente. O grande dia nunca é especialmente anunciado. A vida que não aconteceu era iluminada. Um casal de velhinhos, uma fotografia na parede, filhos correndo pela casa atrás dos cachorros, filmes no fim do domingo, histórias inspiradas neles, músicas dentro do carro, telefonemas sem sentido, almoços intermináveis. Ele sempre correndo, ela sempre esperando. O futuro seria perfeitamente defeituoso. Mas ele ligou pra ela naquela noite qualquer e assumiu que só com ela se sentia bem, que ainda estava perto, que sentia muito. Duas horas depois, voltou para a sua vida como se fosse fácil escolher o comum, viver o medíocre. Voltou para sua vida mais ou menos e achou óquei. Despedir-se nunca foi tarefa difícil para ele, até ali. Por um momento... Não. Não sabia que aquele era o momento, então virou as costas e foi viver os últimos 35 anos da sua vida longa e insosa. Nunca soube o que houve com ela exatamente, mas há uns anos lhe contaram que ela estava voltando de uma longa viagem e dizem que não tinha envelhecido um ano sequer.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Cuide de você



(Todas as cartas de amor são ridículas. Não seriam ridículas se não fossem cartas de amor. Ou desamor.)


Sophie,
Há algum tempo venho querendo lhe escrever e responder ao seu último e-mail. Ao mesmo tempo, me pareceria melhor conversar com você e dizer o que tenho a dizer de viva voz. Mas pelo menos será por escrito.
Como você pôde ver, não tenho estado bem ultimamente. É como se não me reconhecesse na minha própria existência. Uma espécie de angústia terrível, contra a qual não posso fazer grande coisa, senão seguir adiante para tentar superá-la, como sempre fiz. Quando nos conhecemos, você impôs uma condição: não ser a “quarta”. Eu mantive o meu compromisso: há meses deixei de ver as “outras”, não achando obviamente um meio de vê-las, sem fazer de você uma delas.
Achei que isso bastasse; achei que amar você e o seu amor seriam suficientes para que a angústia que me faz sempre querer buscar outros horizontes e me impede de ser tranquilo e, sem dúvida, de ser simplesmente feliz e “generoso”, se aquietasse com o seu contato e na certeza de que o amor que você tem por mim foi o mais benéfico para mim, o mais benéfico que jamais tive, você sabe disso. Achei que a escrita seria um remédio, que meu “desassossego” se dissolveria nela para encontrar você.
Mas não. Estou pior ainda; não tenho condições sequer de lhe explicar o estado em que me encontro. Então, esta semana, comecei a procurar as “outras”. E sei bem o que isso significa para mim e em que tipo de ciclo estou entrando. Jamais menti para você e não é agora que vou começar.
Houve uma outra regra que você impôs no início de nossa história: no dia em que deixássemos de ser amantes, seria inconcebível para você me ver novamente. Você sabe que essa imposição me parece desastrosa, injusta (já que você ainda vê B., R.,…) e compreensível (obviamente…); com isso, jamais poderia me tornar seu amigo.
Mas hoje, você pode avaliar a importância da minha decisão, uma vez que estou disposto a me curvar diante da sua vontade, pois deixar de ver você e de falar com você, de apreender o seu olhar sobre as coisas e os seres e a doçura com a qual você me trata são coisas das quais sentirei uma saudade infinita. Aconteça o que acontecer, saiba que nunca deixarei de amar você da maneira que sempre amei desde que nos conhecemos, e esse amor se estenderá em mim e, tenho certeza, jamais morrerá.
Mas hoje, seria a pior das farsas manter uma situação que você sabe tão bem quanto eu ter se tornado irremediável, mesmo com todo o amor que sentimos um pelo outro. E é justamente esse amor que me obriga a ser honesto com você mais uma vez, como última prova do que houve entre nós e que permanecerá único.
Gostaria que as coisas tivessem tomado um rumo diferente.
Cuide de você.

X



sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Atestado


Uma tendinite me impede de dizer tudo o que eu queria.
Ou seria uma amidalite?
A gastrite não é, dessa vez. Nem a enxaqueca.
Bem, dessa vez não posso falar.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Migalhas sobre a mesa

Tem umas coisas que se aprende na vida sem saber quando nem de que jeito. Como o peso que devemos usar nas mãos para espantar as migalhas do bolo sobre a mesa sem manchar a toalha nova da mãe. É uma arte, um dom de pessoas delicadas que, muitas vezes, não sabem que o são, mas são, de fato. Tem outras coisas na vida, que por mais simples que sejam, são impossíveis de ser aprendidas, mesmo que treinadas, mesmo que com muitas tentativas. Não é privilégio dos delicados, nem dos bem-nascidos. Tem coisas impossíveis. Você sabe o que, não precisamos de exemplos, não é? Ou você já aprendeu isso também?

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Meu meu meu


Minha cabeça vazia. Minha garganta doendo. Minhas costas estranhas. Meu cabelo em pé. Minha cara franzida. Meu esmalte descascado. Minha internet lenta. Meus amigos longe. Meu telefone mudo. Meus sonhos esquecidos. Minha música tocando. Meu dia normal.


quinta-feira, 9 de julho de 2009

Estou bem

Às vezes, uma simples conversa resolve tanta coisa. Acordei hoje sentindo uma bobeira que não sentia há meses. É claro, falei o que não devia, não fui prudente e muito menos orgulhosa. Mas, sinto-me bem. Bem como deveria estar todos os dias, não fosse a fugacidade dessa pequena alegria. E mais feliz porque sei que é só por hoje. Amanhã, acabou. Amanhã, a verdade reaparece e nossa conversa já não vai adiantar muito para me deixar contente. Mas, e daí, não é mesmo? Hoje, agora mesmo quando é feriado por aqui e eu trabalho num belo dia de sol, estou bem, contra tudo o que é permitido, estou bem.

domingo, 5 de julho de 2009

Dias intermináveis


Estava acostumada a ficar calma depois de apenas um telefonema. Ela ligava e dizia que a barriga doía de um jeito estranho, sem nenhuma explicação e, misteriosamente, ela se tranquilizava. Isso não era o melhor que ele sabia fazer, é verdade. Sempre teve pouca paciência e muita auto-estima para entender porque ela sofria tanto com coisas tão pequenas. Mesmo assim, dizia as frases mais clichês e, voilà!, colavam. Talvez fosse o jeito sempre seguro até pra dizer que tudo ia dar certo pra ela. E sempre deu. Nunca houve uma grande perda, um grande erro, um grande fracasso. Assim como agora, quando ele não telefonou para assegurar que tudo estava controle, tudo continua dando certo.
Muitos dias de silêncio. Muito, muito mais do que pensou que poderia suportar. Dias intermináveis, dias anuveados, frios, insones, terríveis.
E ela, tadinha, pensou que dele só sentia falta do apoio incondicional. No fundo, sente falta de cada música que não descobriram juntos, de cada viagem não feita, dos beijos desperdiçados antes de dormir, dos momentos esquecíveis, de cada frase tola, de cada entrega na porta de casa com cara amarrada, dos telefonemas sem razão, dos planos sobre a vida, dos comentários maldosos, dos dias de raiva. Para seu azar, até disso.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Raiou o sol


Tem dias que a vida acorda sorrindo pra você. É simples, apenas uma alegria de criança, honesta e plena, cheia de sorrisos gratuitos e abraços distribuídos. Depois você vai dormir e acorda na outra manhã como antes. Mas, por um dia, você foi abençoado. E há tanta beleza em pequenas alegrias assim. Tanta!

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Uma coca light, por favor



O primeiro aviso estava lá: uma coca light, por favor. Parecia como todos os dias, mas aquela era uma iniciação para o grande jogo de gente grande. Não gostei. Quem disse que o que vale é o que foi vivido? Eu gosto é dos finais felizes, das resoluções. A espera me arde. Vocês falam como se as coisas mais simples e as mais bonitas fossem experiências. Eu não sou isso. Eu era cheia de vida, cheia de expectativas, de vontades, de sonhos, de medos, de sorrisos e de lágrimas que caem no pior momento no meio de uma conversa séria. Agora já não sei. Um gole de coca para disfarçar. Isso eu aprendi cedo. Mas, não sei fazer de conta, nem vou saber te cumprimentar como se nada entre nós fosse de verdade. Eu entrei nesse jogo com o nó na garganta, com o coração apertado. Isso não é arrependimento, é tristeza. Tristeza ainda não nomeada, o que seria o primeiro passo para a revolução. Nas minhas regras, valem remédios que controlam sentimentos, que colocam pra dormir, que acordam depois do café. Ou da coca light. No seu, não sei. Você não entende meu medo eterno de ficar sozinha. E tudo, pra mim, depende disso.

domingo, 21 de junho de 2009

Só pra constar 2



Se tem um homem (?) nessa vida pra quem eu pago pau, esse cara é o Brandon Flowers.
Enfim, to sozinha em casa e queria compartilhar isso com meu blog falido.


sábado, 20 de junho de 2009

Só pra constar



A espera é insuportável.
In-su-por-tá-vel.


quarta-feira, 17 de junho de 2009

Apenas uma história de amor



Ele tinha uma certeza ímpar de que o que sentia era verdadeiro. Nada mudaria a maneira como ele via o seu próprio passado. Muitas vezes se encontrava sonhando sobre aquilo que ele acreditava ser uma única união. A intensidade com que se amaram o distanciava de qualquer personagem tolo de histórias de amor. Foi a indiferença e o silêncio que ela insistia em promover que o fez olhar entorno de si. Eles foram feitos do mesmo material que todos os outros romances impossíveis e inventados. Nada do que viveram foi singular, ele admitiu. Nesse exato momento, se deu conta, ela devia estar experimentando em outro todas as palavras que já testou nele. “Você se encaixa tão bem em mim”. “Sinto tanto sua falta, isso definitivamente significa algo”. “Quando penso em família, penso em você”. As lágrimas deveriam ser as mesmas, os sorrisos também. Daí, nasce mais uma nova e velha história de amor. Eles não foram extraordinários, não há nada de especial no insucesso deles, não há por que sonhar que ela seja única, insubstituível. Agora, só a certeza ímpar de que todas as histórias de amor são feitas apenas de fé. E a dele não existia mais. Nele, não existia mais amor algum.


sexta-feira, 5 de junho de 2009

Hoje, eu entrei no mundo adulto



Por poucos dias apenas, esqueci meu medo dos domingos e aceitei a possibilidade de um novo começo. Pensei que pudesse não ter dor e que nunca tivesse sido esquecida. Mas fui, e meu medo voltou. Estou perdida entre seis milhões de pessoas e se meu telefone parar de funcionar agora, eu desapareço com ele. Desejo para a próxima vida jogo de cintura, uma cidade com praia, relacionamentos superficiais e numerosos, amigos de bar, muito dinheiro para a terapia e os remédios, nenhum auto-controle, um metro e setenta de altura, palavras maliciosas e bem-ditas, sexo superficial, numeroso, com os amigos de bar, com dinheiro e sem controle. Desejo que meu telefone toque aos domingos e que você esteja na porta de casa antes mesmo que eu possa te proibir de fazer isso. E que você me faça ter sentimentos claros, bons e honestos, e que não exista mais casa vazia. E que o medo desapareça porque não haverá esquecimento. Por poucos e rápidos dias, esqueci o medo de que tudo desse errado e apenas sequei o seu suor. Mas, fui.

"If I was young, I'd flee this town
I'd bury my dreams underground"

sábado, 30 de maio de 2009

Você é o meu erro



Quando eu falo do que está acontecendo entre nós, falo como se fôssemos filme, como se fôssemos personagens de uma comédia de erros. Sou sarcástica sobre nós. Dou risada e consigo enxergar o grande engano que cometo em me envolver com você. Erro não, risco. Você é minha possibilidade. Se eu soubesse o gênero do nosso filme, saberia se daríamos certo ou não. Ficaria tranquila e não teria medo de todas os plot points que virão. Mas eu não escrevi as suas características, nâo sei se você é o cara bom ou o cara com quem a mocinha se envolve achando que é bom mas que só faz ela quebrar a cara mais uma vez. Eu sou a minha mocinha. E você é o meu risco. É a minha aposta. É exatamente a descrição que eu faria do cara bom, do cara manso. Você é o meu erro.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Barriga cheia



Enquanto comia seu sanduíche de requeijão, tomate e alface, pensava em algo que pudesse comovê-lo. Pensou em falar daqueles dias felizes em que passavam tardes da semana vendo filmes. Todos eles, os mais bobos, os mais incompreensíveis. Mas isso já fazia tanto tempo que sabia que ele não ia lembrar. Pensou em falar dos planos que fizeram para um futuro próximo. Conhecer Veneza. Iriam os dois e uma câmera fotográfica. Mas ele foi sozinho e não trouxe nada de lá que lembrasse ela. Nem quis mencionar os filhos, o menino mais velho e as duas garotinhas. O sanduíche no fim e nada bonito o bastante para que pudesse fazer com que uma primeira lágrima caísse do rosto dele. Nunca em tanto tempo ele tinha chorado. Nada foi emocionante o bastante, nada foi dolorido. Nenhuma lembrança que pra ela fosse inesquecível faria com que o coração dele batesse de verdade. Ele gostava dos sanduíches que ela preparava e isso era sincero. Mas ele nunca disse e ela nunca soube. Acabou o seu lanche com a banalidade com que qualquer um acaba de dar o último pedaço num pão. Acabou assim seus planos de provocar algo real nele, real como a sensação de barriga cheia.


terça-feira, 12 de maio de 2009

Não esquecer


Como disse Camilla
apenas uma nota mental:





sexta-feira, 8 de maio de 2009

Um texto bonitinho



Queria te escrever uma coisinha bonitinha. Algo pra você ler um dia e saber que eu estou feliz, que estou bem e que, aleluia!, há felicidade além do amor. Queria te dizer num texto cheio de metáforas que estou sorrindo por não ter dormido, feliz por ter bebido, sonhando por não ter voltado pra casa. Mas hoje eu não estou escrevendo como ela, não estou pensando com lágrimas escondidas, não estou desejando o impossível. E eu queria que, num texto bonitinho, você soubesse o quanto isso é bom!


segunda-feira, 4 de maio de 2009

Não me diga



Odeio que sua ausência ainda diga algo. Odeio saber que cada palavra não dita significa tanto quanto um som. Seus olhos secos significam, suas mensagens não direcionadas a mim ainda querem falar comigo. Não é apenas a inexistência, a facilidade com que deixamos de ser um para o outro. Não, não é. Eu sei que ainda trocamos frases em silêncio. Sei que ainda olhamos no relógio ao mesmo tempo enquanto desejamos tomar um café matinal no meio da tarde. Sei dos pensamentos em todos os seus dias cinzas. Odeio saber de tudo isso e virar os olhos. Fico quieta, tomo sozinha o meu café preto - o meu, extra-forte, por favor - numa manhã de sol em que tudo não lembra você.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

If only...

Teria ido ao inferno, se você pedisse. Se fosse do seu agrado, teria ficado de longe, observando você. Teria sorrido, acenado e te mandado um beijo. Corria até você para te beijar, até. Seria rápido, casual, meio nojento, meio melado. Mas seria um beijo. Isso se você tivesse pedido, se você tivesse me contado. If only. Se você não fosse um completo imbecil, um escroto sem coração, um imenso egoísta, o rei dos cretinos. Só se você não fosse uma completa perda de tempo, um caso perdido, a imagem da solidão. Mas, somos quem somos. E você, você é incorrigível, inaceitável. Do lado de cá, o mundo é uma pista de vôo.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Acaba?



Li isso, do Marcelo Rubens Paiva, hoje a noite. Fico feliz por não ter viajado. São Paulo pode ser amável.



Quando me pediram a crônica, pensei logo numa que escrevi há uns anos e que repercutiu, O AMOR NÃO ACABA, uma resposta otimista e apaixonada [não muito convicta, confesso] à famosa crônica O AMOR ACABA, de Paulo Mendes Campos, que foi citada enquanto eu levava um surpreendente, desesperador, aviltante, torpe e indigno pé-na-bunda. O paradoxo dos paradoxos aconteceria se ELA aparecesse e comprasse o quadro!!!

Diz o original de Mendes Campos: "O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos..."

Cá está minha versão resumida, para caber numa lauda:

O amor não acaba

O amor acaba? O cara disse. Numa esquina, num domingo, depois do teatro e do silêncio, na insônia, nas sorveterias, como se lhe faltasse energia. Ele não volta? Não deixa rastro ou renasce? Na esquina em que se beijaram uma vez, lá está, na sombra apagada pela luz, na poeira suspensa, na revolta da memória inconformada. Na solidão, lá vem ele, volta, com lamento, um quase desespero, e penso nos planos perdidos, que vida sem sentido... Na insônia, o amor cai como uma tonelada de lápide, e se eu tivesse feito diferente, e se eu tivesse sido paciente, e se eu tivesse insistido, suportado, indicado, transformado, reagido, escutado, abraçado? Na sorveteria, ele volta, o amor, em lembranças. Porque aquele sabor era o preferido dela, aquela cobertura era a preferida dela, aquela sorveteria era a preferida dela, aquela esquina, aquele bairro, aquele clima, aquela lua, aquele mês, aquela temperatura, aquela raça de cachorro, aquele programa de fim de tarde e aquele horário sem planos... No elevador, quantas saudades daqueles segundos em silêncio, presos na caixa blindada, vigiados por câmeras camufladas, loucos para se agarrarem, rirem, apertarem todos os botões, tirarem a roupa, escreverem ao lado do Atlasado: “Eu te amo”. Saudades é amor. Não se tem saudades do que não se amou. O amor não acaba, porque tenho saudades, me lembro dela, me preocupo com ela, torço por ela, e se sonho com ela, meu dia está feito. O amor não pode acabar, porque sem ela ou sem a esperança de revê-la, até a chance de tê-la de volta, não vejo a paz. Ela é uma trégua na minha guerra pessoal contra a minha paixão por ela. Amá-la me faz bem. Mesmo que ela não me ame, amo amá-la. Continuei amando desde o dia em que terminou. Passei meses amando como se não tivesse acabado. Ficaria anos amando mesmo se não tivesse voltado. O amor não acaba, muda. O amor não será, é. O amor está. Foi. Nas tantas músicas que ouvimos, que dançamos colados, trilhas das noites frias em que você sentava em mim nua, enquanto os meus braços imobilizavam os seus. Amor. O não-amor é o vazio. O antiamor também é amor. Eu te amava quando você respirava no meu ouvido. Lembra do meu dedo dentro de você? Amo-te, amo-te, amo-te. Instante secreto, sua boca incha, seus olhos apertam, suas unhas me arranham e você diz: Eu te amo! O amor acabou quando você se foi? Você sentiu saudades das minhas paredes, das cores das minhas camisas, da umidade da minha boca, do cheirinho do meu travesseiro, da minha torrada com mel, das noites pelados assistindo à tevê, dos vinhos entornados no lençol, do café da manhã com jornal, você sentiu falta de atravessar a avenida comigo de mãos dadas, de correr da chuva, de eu te indicar um livro, do cinema gelado em que vimos o filme sem fim, torcendo para acabar logo e ficarmos a sós, você sentiu falta da minha risada, inconveniência, de eu ser seu amante, noivo, amigo e marido, dos meus olhos te espiando, dos meus dentes mordendo e mastigando, ficou tanto tempo longe e pensou em nós especialmente bêbada ou louca, queria me ligar, me escrever, meu cheiro aparecia de repente, meu vulto estava sempre ali, acaba? Diz que acaba. Como acaba? Não acaba. Diz, não acaba. Repete. Falei? Não acaba. Pode virar amor não-correspondido. Pode ser amor com ódio, paixão com amor. Tem o amor e o nada. Ah, mais uma coisa. Antes que eu me esqueça. O amor não acaba. Vira. Se acabar, não era amor.

Será?


sábado, 25 de abril de 2009

Odeio você


Eu nunca odiei tanto alguém. Nunca desejei a morte e nunca quis ver alguém tão infeliz. Eu quero que você morra pra sempre, que suma pra sempre, que todos se esqueçam de você. Mas, antes, quero que sofra, que algo te doa muito, para que você saiba o que é viver, o que é sentir algo de importante, real, intenso. Eu quero o seu mal, quero o pior, a sua dor. Quero que perca os amigos, mesmo os mais falsos. Quero que fique sozinho, que as flores da sua casa morram, que seus cabelos caiam e que seus dentes fiquem pretos. Quero que tropece num buraco e que quebre as pernas. Torço para que nunca mais você tenha um dia de sol, que nunca mais sinta a água do mar nos seus pés, que nunca mais escute uma boa música e fique incapaz de pular ao som da sua banda predileta. Quero que o frio que entra pelas frestas da sua janela intensifique a sua renite e que você pegue uma pneumonia e morra. Odeio você, odeio você.
 

quarta-feira, 15 de abril de 2009

abril de 2009

Quarta-feira, Abril 15, 2009


Eu não sei escrever sobre outras pessoas. Não sei criar vidas, nomes, histórias, vontades. Não sei o que é ser outra pessoa que não seja eu. Eu não sei não ser egoísta, não sei ser criativa, não sei ter boa vontade, não sei inovar. É sempre sobre mim. Eu é que importo agora. E antes. Se não sou eu, é quem eu deveria, gostaria ou poderia ser. Sempre vai existir um eu, alguma eu que está aqui. Sempre vou estar dentro. Não posso parar de pensar como eu. É como se só fosse eu no mundo, o personagem principal. "Malkovich, Malkovich." Composições paralelas pra me ajudar a ser eu. Eu não tenho outra lógica além da minha ou outra maneira de sentir além de mim. Eu queria poder falar dos outros. Queria descrever sensações que não vivi, entender pensamentos que não foram meus, dizer frases que nunca falei, amar outras pessoas, ser você. Eu queria poder entender outros jeitos, contar outras histórias, ser, por um momento, um ímã. Queria ser sensível, inteiramente capaz de sentir o mundo. Mas eu não sei escrever histórias. Eu não sei ser nada além de uma parte de mim.
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Quando eu to acordada, só penso na hora de dormir. 
E quando eu durmo, nunca mais quero acordar. 
Mas, às vezes, na hora que é a de dormir, o cérebro decide pegar um ônibus leito e ir parar em lugares esquecidos durante o dia, e não volta mais. Daí o sono toma um cafezinho, vai dar um tempo na sala de estar, pensa que pode voltar três horas depois porque ninguém tá sentindo a falta dele. Engano, Sr. Sono, pode voltar aqui. Traz com ele o meu cérebro, as minhas idéias e pode deixar as memórias que você recordou. Aqui é a Terra das Oportunidades, o lugar de suar, onde os fracos realmente não têm vez. Volta, sono, volta, voolta, volta... volt... vo... o... ooooo... ... 
... 
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Domingo, Abril 05, 2009


Aprendi hoje que sair com pessoas que não conheço bem e que tinha medo de ter que apelar pro meu caderninho sos para falta de assuntos, aprendi hoje que esses momentos podem ser bem divertidos, sinceros e bonitos. Obrigada, Gal, obrigada, Luis. Seguindo a Escola Camila-Fernando de Recepção de estrangeiros, vocês me fizeram me sentir em casa nessa cidade tão chuvosa. Hoje, vou passar um domingo a noite embriagada de vinho bom e pizza de metro. Melhor mesmo, só se não voltasse pra casa vazia. Mas, obrigada!
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quarta-feira, 11 de março de 2009

março de 2009

Quarta-feira, Março 11, 2009


Eu ontem, quando te disse para ir embora que eu estava bem, você chorou. Não quis me ouvir e ficou com aquele olhar de quem diz que estou fazendo algo errado. Hoje, por isso, quis te ligar quando o dia me doeu. Mas, você já estava novamente feliz, novamente distante, novamente, ninguém. Burra eu que te amo, burra eu que te dôo. Burra eu. Eu ontem, quando fiquei ao seu lado por toda a tarde, devia ter atendido o chamado do mundo. O mundo sem dor, aquele outro caminho fácil, em que tenho o que preciso, em que recebo o que quero. Eu hoje jogo palavras sem sentido para um blog esquecido, para um leitor qualquer, sozinho no meio de uma quarta de domingo. E se alguém lê, me desculpa, os dias têm sido cinzas, tem sido sem nenhum amor, sem nenhum desejo, cinza, cinza, cinza. Eu ontem não queria mais voltar pros meus quadrinhos em banco e preto, mas você não sabe me pedir pra ficar, não sabe colorir, não quer ter nada meu. Sim, hoje eu não estou feliz, não me esforço pra parecer, quero preocupar meu único leitor esperançoso. Hoje eu quero morfina, quero sono eterno, quero três dias sem nervos. 
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Domingo, Março 01, 2009


Por que nunca é você do meu lado? Por que é sempre a sua ausência e a sua simplicidade? Eu não quero desistir de você, não mais uma vez. Mas, querido, você nunca está aqui. O meu lado está sempre vazio, os meus domingos são apenas lembranças, suas mensagens não chegam e sua boa-vontade não é o bastante. O que você diz ser esclarecedor ainda não basta. Eu preciso do seu abraço, da sua presença, de compartilhar com você, e não apenas quando você sente minha falta. Eu quero sempre, todos os dias, todas as noites. Mas, meu querido, você não está aqui novamente. E seu lugar não é mais seu, e eu não sou só sua, e você não sabe de nada, porque você não está aqui. Você nunca mais esteve. Não importa que você pense que está.
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terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

fevereiro de 2009

Terça-feira, Fevereiro 03, 2009


Hoje você deixou de ser meu, deixou de ser querido, deixou de ser. Não imagino o que de melhor você encontrou, mas, se foi. Foi sem tchau e eu agradeci. Não era mais possível fingir que te amava, que sua presença por perto era bem quista. Eu não soube dizer que não te amava e você foi incapaz de ver. Hoje eu deixei de ser sua e espero que você sinta. Não lamento, não peço desculpas, não quero que você se lembre. Para nós, não há mais carinho, não há mais boas memórias, nem pequenos gestos, sorrisos discretos, boas músicas. Para nós, acabou. 
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domingo, 25 de janeiro de 2009

janeiro 2009

Quarta-feira, Janeiro 28, 2009


Milhões de sentimentos simultâneos. A cabeça a mil e tonta. Dez anos, ou menos. O tempo não passou. Passou, mas é bom sentir que o essencial não muda. O que é importante está lá. E faz sorrir, faz lembrar, desejar, suar, e, por que não, o importante é que o amor está lá. Não o de sempre, não o de filme, o das músicas, está lá o amor do fundo, o carinho eterno, gratuito, cúmplice. Abraços não dados, beijos esquecidos. “Saudades.” “Não some, ta?” “Beijo, linda.”
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Terça-feira, Janeiro 20, 2009


Olhando pra ela não era possível imaginar as lágrimas que já tinha derramado. Cry me a river. Ela perdeu o filho que vocês sonharam, que quase tiveram tantas vezes, mas decidiu manter em segredo. Até de você. A cada dia doía menos a sua ausência, as músicas no rádio, os pequenos momentos. Durante o dia, esquecia que você já fez parte da rotina. Não sabia mais o seu número de cor, esqueceu-se do dia do aniversário, do segundo beijo, da combinação dos nomes. Nos pensamentos dela, apenas um lamento, um suspiro, um sorriso triste no canto da boca e muitos novos anseios. Olhando pra ela é impossível acreditar que já te amou.
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Quinta-feira, Janeiro 15, 2009


Foi em outro que ela pensou quando foi beijada. Inesperadamente, sem nenhum afeto, seu coração parado enquanto os lábios se moviam. E, no pensamento, apenas, a outra imagem, um outro rosto grande e sério. Idiota, imbecil, ingrato, besta, idiota. Idiota. Idiota. Por que ele não está lá? Idiota, idiota, idiota. Ou, por que as sombras dele não desaparecem? Por quê? Por quê? Por quê? Por que apenas não assume que é ela a pessoa certa? Ela sabe. Ele sabe. Por que ele a deixa nos braços de outro enquanto o que ambos querem são os corpos conhecidos? Idiota. Idiota. Ela o ama, desesperadamente, como se essa fosse a única coisa boa que soubesse fazer nessa vida. E beija, abraça, sorri, finge que gosta, finge que curte. Não conhecia a complexidade da vida. Não até hoje. Hoje, ela disfarça, sofre, descobre um corpo longe do desejo. Deseja longe do coração. Para ela, até hoje, só amar era o bastante. Hoje, ela aprendeu a fingir. E a se divertir. Por que não?