quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Prognóstico

Decidi te tratar como uma doença contagiosa. Quanto mais eu falo de você, mas você se espalha pelo meu corpo e toma conta das minhas funções vitais. Decidi ir ao médico pedir algo que anule sua influência sobre minha sanidade. Decidi que extinguiria qualquer mancha causada pela sua doença, qualquer memória física que tenha sobrado que você já foi. Decidi acabar com as prazerosas alucinações. Que viveria bem mesmo se você fosse maligno e mesmo que tivesse que escrever coisas só para me convencer que sem você a vida ainda é divertida e brilhante. O tratamento não vai ser doloroso. Talvez eu precise mudar a cor dos meus cabelos ou tomar algumas doses extras de tequila três vezes por semana. Tudo vai depender da evolução do meu quadro clínico. Ou talvez tudo melhore com só um telefonema.

sábado, 15 de agosto de 2009

Tudo como sempre



Ligou pra ela numa noite qualquer e confessou o que todos sabiam. Não tinha acabado. Nada mudou na sua vida, não refez os planos nem imaginou que a felicidade poderia ter voltado. Era um desses momentos em que a vida pode mudar radicalmente. Não é um dia especial, não é um dia de arco-íris, nada é diferente. O grande dia nunca é especialmente anunciado. A vida que não aconteceu era iluminada. Um casal de velhinhos, uma fotografia na parede, filhos correndo pela casa atrás dos cachorros, filmes no fim do domingo, histórias inspiradas neles, músicas dentro do carro, telefonemas sem sentido, almoços intermináveis. Ele sempre correndo, ela sempre esperando. O futuro seria perfeitamente defeituoso. Mas ele ligou pra ela naquela noite qualquer e assumiu que só com ela se sentia bem, que ainda estava perto, que sentia muito. Duas horas depois, voltou para a sua vida como se fosse fácil escolher o comum, viver o medíocre. Voltou para sua vida mais ou menos e achou óquei. Despedir-se nunca foi tarefa difícil para ele, até ali. Por um momento... Não. Não sabia que aquele era o momento, então virou as costas e foi viver os últimos 35 anos da sua vida longa e insosa. Nunca soube o que houve com ela exatamente, mas há uns anos lhe contaram que ela estava voltando de uma longa viagem e dizem que não tinha envelhecido um ano sequer.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Cuide de você



(Todas as cartas de amor são ridículas. Não seriam ridículas se não fossem cartas de amor. Ou desamor.)


Sophie,
Há algum tempo venho querendo lhe escrever e responder ao seu último e-mail. Ao mesmo tempo, me pareceria melhor conversar com você e dizer o que tenho a dizer de viva voz. Mas pelo menos será por escrito.
Como você pôde ver, não tenho estado bem ultimamente. É como se não me reconhecesse na minha própria existência. Uma espécie de angústia terrível, contra a qual não posso fazer grande coisa, senão seguir adiante para tentar superá-la, como sempre fiz. Quando nos conhecemos, você impôs uma condição: não ser a “quarta”. Eu mantive o meu compromisso: há meses deixei de ver as “outras”, não achando obviamente um meio de vê-las, sem fazer de você uma delas.
Achei que isso bastasse; achei que amar você e o seu amor seriam suficientes para que a angústia que me faz sempre querer buscar outros horizontes e me impede de ser tranquilo e, sem dúvida, de ser simplesmente feliz e “generoso”, se aquietasse com o seu contato e na certeza de que o amor que você tem por mim foi o mais benéfico para mim, o mais benéfico que jamais tive, você sabe disso. Achei que a escrita seria um remédio, que meu “desassossego” se dissolveria nela para encontrar você.
Mas não. Estou pior ainda; não tenho condições sequer de lhe explicar o estado em que me encontro. Então, esta semana, comecei a procurar as “outras”. E sei bem o que isso significa para mim e em que tipo de ciclo estou entrando. Jamais menti para você e não é agora que vou começar.
Houve uma outra regra que você impôs no início de nossa história: no dia em que deixássemos de ser amantes, seria inconcebível para você me ver novamente. Você sabe que essa imposição me parece desastrosa, injusta (já que você ainda vê B., R.,…) e compreensível (obviamente…); com isso, jamais poderia me tornar seu amigo.
Mas hoje, você pode avaliar a importância da minha decisão, uma vez que estou disposto a me curvar diante da sua vontade, pois deixar de ver você e de falar com você, de apreender o seu olhar sobre as coisas e os seres e a doçura com a qual você me trata são coisas das quais sentirei uma saudade infinita. Aconteça o que acontecer, saiba que nunca deixarei de amar você da maneira que sempre amei desde que nos conhecemos, e esse amor se estenderá em mim e, tenho certeza, jamais morrerá.
Mas hoje, seria a pior das farsas manter uma situação que você sabe tão bem quanto eu ter se tornado irremediável, mesmo com todo o amor que sentimos um pelo outro. E é justamente esse amor que me obriga a ser honesto com você mais uma vez, como última prova do que houve entre nós e que permanecerá único.
Gostaria que as coisas tivessem tomado um rumo diferente.
Cuide de você.

X



sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Atestado


Uma tendinite me impede de dizer tudo o que eu queria.
Ou seria uma amidalite?
A gastrite não é, dessa vez. Nem a enxaqueca.
Bem, dessa vez não posso falar.