sexta-feira, 25 de novembro de 2005

2005

Quinta-feira, Novembro 17, 2005


Eu vou envelhecer como as mulheres que esperam os ônibus nos terminais. Eu também vou conversar sozinha, ter as mãos pequenas em relação às orelhas, descolorir os cabelos e vê-los crescer brancos. Eu também vou descombinar as roupas, desalinhar os eixos, perder os dentes como elas. Nunca mais vou ler as poesias, me emocionar com os filmes, chorar à toa. Meu rosto também ficará duro. Vou entrar nos ônibus segurando sacolas com pequenos presentes para netos que não sabem quem sou eu. Eu também não vou sorrir, não vou ter pressa, não vou ter ânimo. Vou ser pesada, inflexível, dormir pouco e cedo. Eu serei olhada por alguém que ainda se acha distante e diferente de todo o mundo ao seu redor, serei olhada por estranhos que não podem me ver. E eu andarei pelos ônibus procurando encontrar meu reflexo perdido em alguma mancha nas janelas coletivas, vou virar a cabeça e arrumar mais uma mecha que caiu sobre os olhos e voltar a olhar-me. Eu também vou cochilar entre uma parada e outra enquanto ando em círculos durante o dia. Vou envelhecer como essas mulheres ao meu redor e entre mim e elas não haverá nada diferente. 
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Quarta-feira, Novembro 09, 2005


Ela não era boa em nada. Não boa o bastante. Pensou em escrever sobre isso porque já fazia muito tempo que não escrevia algo, mas era incapaz de escrever. Sua poesia era pobre, seus temas comuns. Ela não emocionava ninguém. Tinha espírito de artista mas não tinha capacidade de se expressar. 
Angústia. Vontade de ser mais do que isso tudo. Impotência, fracasso. Vontades que não serão realizadas. Conformar-se com a insapiência, a falta de brilho, de gosto. Melancolia, fome, um pouco mais de atenção. 
Era como aquela moça que atravessou a rua, aquela outra que estreou uma peça de um dia só, ela era o Robin, o Tom, um Silva ou Souza. Ela é a escada, o meio, a soma, a massa, a estatística. Nunca bonita o bastante, nunca inteligente, criativa, nunca boa o bastante.