domingo, 25 de setembro de 2005

2005

Terça-feira, Setembro 27, 2005


Chuva e frio e sem sono e querendo escrever e parada na cama e com uma dor de cabeça sempre presente e precisando escovar os dentes e repensando a vida. Eu pedi pra que você se fosse. E te avisei que era perigoso ficar comigo. E por que você não vai embora agora? Já não sei se há mais tempo mas pode ser a mesma coisa. Meu vocabulário está acabando e graças a isso aqui estou sentindo um pouco de sono. Não queria ter que voltar pro mundo e me despedir de você. É diferente do que eu disse há dois minutos, mas e dai? Vontades simultâneas, sensações, anseios. Enquanto eu escrevo, uma sombra sua perambula, e se senta. Põe a cabeça no meu pé, nesse exato instante. Agora você pode ler.
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Quinta-feira, Setembro 15, 2005


Dois de Novembro. 
Eu briguei com você e a culpa foi do passado. Eu briguei, mas foi com aquela parte de mim que ainda não tem dezessete anos. E agora vou ficar esperando: quarenta e oito longos dias até que você volte! Volta. Quero você do meu lado respirando fundo enquanto eu ajeito minha cabeça no seu ombro pra dormir e, rangendo os dentes, quero acordar assustada com o seu barulho, puxar o cobertor até o pescoço e te olhar sem que você saiba. Quero: saber que eu vou agüentar, estar forte mesmo sem você, mesmo com você. Briguei hoje pela primeira vez e vinte minutos depois as pazes foram feitas. Eu: chorando, pensando ter encontrado em você uma outra pessoa, aliviada por ela já ter ido embora. Acho que era eu. Acho que eram meus olhos corrompidos pelas tristes histórias de outras pessoas que imaginam sempre uma pequena miséria a cada tropeço pequeno. Mas nós não somos elas, não somos assim. Nós: ainda estamos decidindo, ainda podemos estragar tudo, ou ainda podemos consertar, ainda temos força. Ainda podemos tudo: se você puder voltar e estender o braço pra eu deitar, eu ajeito seu cobertor. 

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Terça-feira, Setembro 13, 2005


Blusa de algodão, blusa de lã 1, blusa de lã 2, jaqueta de nylon. Corri para pegar o ônibus. Mãos vermelhas, eu não sou desfragmentada. Ontem, ela conseguiu oficialmente acabar com uma coisa. Sentiu-se. Queria encher a casa dele de bilhetes, escrever em todos os cantos, preencher cada espaço vazio e cada espaço ocupado. Poderia se mudar pra lá. O pé estava molhado por causa da chuva que caía a três longos dias. Às vezes, mente para a família, compra um doce de amendoim escondido, rói as unhas. Às vezes deseja ser outra pessoa, deseja outras pessoas. Olha-o como se fosse um privilégio, pega com força nos seus braços, nas suas costas, no pescoço, tem vontade de chorar. E choro. O sonho que teve enquanto dormia fez com que se sentisse culpada e achou que ele poderia desconfiar. E o que mais? Gostava do peso do cão nas suas pernas: aquela mania compartilhada por ambas. Lembrou que gostava de Linguagem, de Teatro, de escrever. Preciso sair de casa. E se chover demais? Vai, vai que o tempo foi. Esqueceu um cobertor na viagem e agora se arrepende. Sempre se arrepende. Quando estou com você, sinto ser eu mesma, mesmo sendo um clichê. Ela não precisa esconder o frio exagerado, a unha roída, a ruga pregada, o medo, o medo, o medo. Cheguei em casa e fui correndo trocar as meias. Amanhã não vai ter sol de novo, disseram. Amanhã ela vai te ligar, vai dizer mais uma vez tudo aquilo que já disse antes e vai sorrir se você disser tudo de novo pra ela. Muitas coisas, e quase nada no fim. 
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Quinta-feira, Setembro 01, 2005


Não consigo mais. To fugindo disso. Não estou pensando e to cheia de medo. 
Hoje chorei quando você não tava em casa. Que mania essa! 
Tá vendo? Eu não consigo mais. Perdi aquilo. Perdi as pequenas frases incitantes, a ironia, a analogia. Você? Não escrevi sobre nós. 
E você não foi. Queria ter te visto, ter sorrido pra você também. 
E uns pesadelos sem sentido enquanto eu estava do seu lado hoje. 
Por que eu me importo tanto? Quero tirar você dessa casa e te levar pra um lugar sem memória. E eu não consigo. Não. Eu não sou mais nada daquilo. 
Geléia. Eu estou imersa numa grande geléia de uva preta.