quinta-feira, 25 de setembro de 2008

2008

Domingo, Setembro 14, 2008


Ela nem sabia que saudade era coisa que se sentia tão forte. Nem sabia que podia doer se não fosse tratada e que virava doença se não resolvida a tempo. Ela nem sabia que tipo de sentimento era esse que passava pra pele, que se mostrava no rosto, que tremia a voz. Não sabia que uma silhueta de relance no meio da rua poderia dar cólicas de ansiedade e que tudo isso era apenas saudades. A maior de todas, a que se passava por esquecida, por superada, por, no mínimo, diminuída. Ela nem sabia que isso tudo era apenas saudade irremediável. 

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Quarta-feira, Setembro 10, 2008


Falar com você hoje me deu dor de estômago. Nem pantoprazol 20mg em dose dupla fora de hora resolveu meu problema. Você me causou dores como eu sentia quando era cobrada sem razão por um chefe neurótico e obsessivo que fazia a si mesmo ter cólicas no estômago. E, olha bem, você não é mais minha responsabilidade. Tentamos negar isso. Eu te dou a mão e você aceita. Você conta suas dúvidas e eu ajudo. Eu peço colo, e você tem. Não somos mais isso. E tenho que sentir dores no estômago para que me lembre que foi você quem se foi. Da próxima vez que aparecer, venha com Milanta, com Omeprazol, com Pepsimar. Da próxima vez, seria bom o silêncio. Aquele que eu não tenho coragem de pedir e que você só oferece da boca pra fora. Aquele lógico e incompreensível da separação. 
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Segunda-feira, Setembro 08, 2008


Hoje ela acordou amando o proibido. Sem nenhum anunciamento, sem nenhum soar de sinos, sem nenhum suadouro, o coração recomeçou a tocar. E sem nenhuma promessa, ela sabe que será novo, diferente e, principalmente, possível. O que ela faz? O que ela quer? Agora tem importância, é sabido, sentido. Diferente de tudo que já teve, de tudo que já viveu, a alegria sincera, a indignação pelo tempo perdido. O recomeço. Queria mandar um alô avisando da mudança, pedindo para que nunca mais aparecesse com sua cara cínica e seu cheiro bom. Ensaiou uma despedida em alto nível, preparou o discurso, mas se convenceu de que valia mais apenas se silenciar e deixar passar. E começou em grande estilo suas novas segundas-feiras.
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Terça-feira, Setembro 02, 2008


Plágio 
(e uma mariola para quem descobrir por quê) 

Na esquina da rua principal, tentando manter a linha. Você diz que quer ir andando e que eu estou ficando pra trás. Você consegue ler minha mente? 
Os bons e velhos dias, um homem honesto. O coração que não descansa, uma terra prometida. Um beijo súbito, que ninguém mais vê. 
Antes que você se vá, me diga o que encontrou. 
- A rainha adolescente, uma arma engatilhada. O sonho perdido, o escolhido, o sotaque sulista. Um mundo invisível. O muro da cidade. 
E um trampolim. 
- Abra essa porta, não deixe que fiquem. Eu quero that fire again
Mas, antes que você se vá, me diga o que vê quando lê minha mente. 

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Terça-feira, Agosto 26, 2008


Adeus, você. Mais uma despedida imaginária, mais uma previsão de domingos solitários, a maior distância, o sonho impalpável. Eu quero voltar, eu quero ficar. Não há alegria longe. A Sibéria. O exagero. Tchau, com amor, com saudades, com esperanças. De novo, mesmo que eu não possa, mesmo que eu não deva. "Pra que minha vida siga adiante".
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Terça-feira, Agosto 19, 2008


Às vezes eu só queria poder falar de outras coisas, assim, alegres e brilhantes. E sem querer, acabo em silêncio por dias. Eu, a cabo. 

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Quinta-feira, Agosto 07, 2008


Você sabe, a coisa? É, a coisa! Ela está atacando novamente. Está a solta, cuidado. O quê? É tarde, já te pegou? Ah, eu lamento muito… queria estar aí para te dar um abraço e fazer você acreditar que vai passar. Não se preocupe. Eu vou pegá-la pra você. E vou acabar com ela, porque não é certo você ter que passar por isso de novo. Eu sei. Eu também não queria, mas agora que ela está solta, se eu não for rápida, será comigo também. Eu sei, eu sei, não é bom… Eu lamento, lamento que esteja sofrendo de novo. Eu estaria ai se não estivesse lutando por mim também. Pode deixar. Eu me cuido. Eu me cuido. Tá. Um beijo. Tá, tá, um beijo. Tchau. 

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Sexta-feira, Agosto 01, 2008


Um pedaço de mim. Um pedaço arrancado de mim. Mas que impossível! O que faz uma pessoa em sã consciência resolver ser cirurgiã dentista e passar todo seu dia arrancando sisos presos? Sim, porque eles sempre estão presos. Sempre são difíceis, sempre são de morrer. Eu sei que foram eles - em uma reunião de sindicato - que inventaram a necessidade de arrancar os sisos. Caso contrário, o que fariam da vida? Seriam arrancadores de molares. E isso não tem graça nenhuma. Não tem retorno dos pacientes com inflamações, infecções e reclamações. Qual seria o prazer sádico em retirar dentes facilmente arrancáveis? Nenhum. Eu já estaria comendo como uma humana civilizada, eu poderia conversar sem parecer que uso aparelho móvel (outra necessidade inventada por esta classe sacana), não teria nenhuma semelhança com o lendário Kiko. É impossível! A quantidade exagerada de drogas legais que estou ingerindo por dia vão destruir minha alegria artificial do final de semana, e nem posso conseguir um emagrecimento fácil, pois se deixo de comer as papinhas engordativas de neném, prejudicaria meu estômago, já tão gasto pelo tempo. Se pudesse esbravejar, esbravejaria, se pudesse me debater, assim o faria. Mas não consigo tirar os olhos do pedaço arrancado de mim. Do tamanho de uma moeda de 50 centavos. Tudo aquilo, dentro de mim. Ah, doce alegria quando eu reclamava pelo seu crescimento. Agora sinto que esse buraco nunca mais irá se fechar, minha boca nunca mais vai morder uma maçã e eu estarei condenada a parecer a pobre garota bonita que saiu deformada da mesa de cirurgia. 
Aiai, hoje eu me sinto especialmente trágica! 

Domingo, Julho 27, 2008


A você, estranho solitário, nem mais uma linha da minha criatividade. Nem mais uma lágrima. O tempo acabou, acabou o amor, acabou a solidariedade. Não há admiração, carinho, dedicação, persistência. A você, gelado andarilho, nem mais um suspiro ou um pensamento perdido no meio da tarde de domingo. Estes são os últimos. Se quiser, são seus. E nada mais. 
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Quinta-feira, Julho 24, 2008


Um recadinho (direto como parece): 

Eu queria que me despedir de você fosse banal assim. Assim como acordar ao teu lado foi banal tantas vezes. Almoçar com você. Comer você. Eu te amo, porra. Queria te dizer tchau como quem pede um quilo de bananas. Virar as costas e não ter a sensação de que tudo morreu ali. Que eu morri. Queria saber ficar do teu lado sem sofrer, sem amar tanto, sem te esperar, sem desejar que cada momento fosse único e intenso como só seria se fôssemos um livro sobre tragédias. Eu te amo, porra. Eu desejo saber me separar de você e continuar a desejar o mundo. Queria que viver ao teu lado doesse menos e que a tua ausência fosse uma possibilidade fácil.
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Terça-feira, Julho 22, 2008


Estava tão obstinado pela idéia de fazer as coisas melhorarem que topou aceitá-lo na relação. Essa era uma das últimas objeções que ainda restaram na sua lista e ele estava abrindo mão. Mais uma vez. Desesperadamente, ele fazia de tudo para tê-la por perto. Até suportá-lo. Isso sem ter a certeza de que ela voltaria em definitivo, que depois “dele”, ela voltaria a ser sua. Ele sonhou que ela estava presa por arames, perto de cair aos prantos. E ele entrou. 
Ela era uma arma. Ela não era a indefesa. Sua alma estava toda queimada. Nada mais a pensar sobre o que aconteceu. Não dormia há dois dias e ela não voltava para casa. A cama vazia. Dores no abdômen. Ela era tão jovem, tão doce. Cada palavra dita parecia um anjo cantando. A cama vazia. Nada mais a pensar e a cabeça borbulhando. Ele poderia levá-la ao cinema, pra variar. Poderia gostar de vermelho. Andar chapado para lembrar como era no começo. Poderia matá-la. Quem sabe os dois? Ter prazer em ver o fim. Em estar lá até no último momento. E saber que tinha sido dele. Estava tão obstinado pela idéia de fazer as coisas melhorarem, que topou deixar a alma esperar. Misturou o rosa com o azul. Mas agora vem a queda. 

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Domingo, Julho 20, 2008


Durante muito tempo eu queria começar de novo. Nascer de novo, como se fosse possível. Meu desejo para a fada da lâmpada seria stop, rewind and play. Hoje eu quero que passe. Está tudo fora do lugar. Como se gritasse: Ser adulto é ser errado e bobo. É injusto, é mesquinho e todos os bons adultos são egoístas demais. Egoístas para amar. Para separar sem fazer sofrer. Eu quero que tudo passe mais rápido. Porque eu não sou boa em ser adulta, em enfrentar com frieza, em pensar só do jeito prático. Se for para passar em câmera lenta, que seja com música e chocolate, com rosas e vinho. Se existir ainda. Porque hoje está tudo bagunçado. Um quarto velho com pratos sujos de comida e garrafas vazias de cerveja. 
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Quarta-feira, Julho 16, 2008


Do tipo Cara Valente 


Eu só queria acreditar que vai ser como antes. Ou melhor. Que todos os projetos que eles fizeram juntos vão mesmo sair do papel, da cabeça, do coração. Que coração? Parece tudo tão distante e impossível hoje. Parece tudo uma piada do destino. Que destino? É tudo simples e banal, sem nenhuma explicação, sem nenhuma ordem superior que comande os sentimentos e ações. Até porque se houvesse, seria tão má e tão inexplicável que desejaríamos matá-la. Exatamente como eles querem se destruir agora, acabar com tudo o que tinham até hoje, até semana passada. De repente aparece uma reticência. Uma dúvida. Uma ruga no meio da testa. Que tantas outras vezes já apareceram e que agora ecoou. E enquanto um deles está lá, parado, segurando o seu lado da corda, o outro solta os dedos e corre contra o vento. Eu só queria acreditar que vai ser como foi antes. Você sabe? Como tudo deveria estar. Que a espera de dez, quinta ou dezessete dias – ou meses, por que não? – valeria algo. Nem que fosse uma explicação, um bom motivo. Se vale a pena, amor? Eu ainda achava que sim. Achava sempre que sim. Mas é só ela que segura a corda agora. Ele não é de nada, escolheu o mal-me-quer. Vai ter que pagar com o coração. 

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Terça-feira, Julho 15, 2008


Qual é o seu segredo? 


Eu gosto de dormir com os olhos inchados depois de chorar. 




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Quarta-feira, Julho 09, 2008


Sabe o que você é?, ela perguntou com todo o resto de coragem que sobrou depois de cinco anos de espera, depois de muito ensaiar aquele momento. Um puta cretino. Cretino cego. Cretino burro. As palavras saíram de modo inesperado, cheias de raiva e rancor, de ódio até, ela se deu conta. Se deu conta que por muito tempo esperou que tudo mudasse, que tudo fosse como deveria ser. A única coisa que tinha ganhado foram seis quilos de ansiedade e um coração de pedra. Um idiota egoísta, insensível, burro. Muito burro. Solitário confesso. De repente, meio que como se fosse iluminada, ela se deu conta que desperdiçou suas melhores energias, sua criatividade, dedicação e, principalmente, seus melhores sentimentos com uma porta sem trinco. E no fundo, é como se ela sempre soubesse que estava nisso sozinha. E mesmo propondo um futuro brilhante, sabia que era sem ele que deveria continuar. Disse todas as palavras com ódio, dele e de si mesma, e se foi. Não ouviu um fica, e resistiu à curiosidade de olhar pra trás. 
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Sexta-feira, Julho 04, 2008


Conheço os lugares novos feliz. Gosto da nova sensação. De repente, parece que tudo é possível. Bem Xuxa mesmo. Conheço as pessoas novas. E penso no que você vai sentir quando estiver lá comigo. Como se isso fosse mesmo necessário. Óbvio, importante. Acho que você vai gostar também, vai dançar também, também vai se divertir. Mas você nunca está lá, quem se já esteve, me pergunto. Nesse momento, alegria pelo novo, pelos novos. E tentando encaixar você. Ainda. 
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Quarta-feira, Junho 25, 2008


A trilha sonora: "Tranqüila, levo a vida tranqüila, não tenho medo da morte, não tenho medo da morte. Não vou me preocupar... Tranqüila... Que me passe... a doença que me passe... a pobreza que me passe... a maldade que me passe... olho grande que me passe... a má sorte que passe... a tristeza da guerra” 
A história: Tomou sua primeira, importante, irrevogável e perigosa decisão sozinha e responsavelmente hoje de manhã. Não foi aquela coisa “deixa o destino resolver”, foi ir contra tudo o que parecia óbvio e racional, sendo racional e óbvia, sob sua ótica. Sob sua ótica, as coisas são confusas um pouco, um pouco cheias de possibilidades, boas, ruins, novas e estranhas. Portas que se abrem e correm monstros para as sombras. Atrás delas e deles, sabe sem porquês, que há cores e brilhos. Tem alguma certeza: uma noite de sono e possíveis felicidades matinais. No momento, está agindo contra o óbvio, sem pedir conselhos ou temer a opinião de todos. E mesmo sem nada parecer claro agora, parece bom, ela diz, tem som de pássaros dizem que haverá céu azul entre seis e sete da manhã. Não tão simples como parece, ela sabe, mas a confiança essas horas é tudo o lhe resta. 
A conclusão: Há vida lá fora! 

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Segunda-feira, Junho 23, 2008


Respiro fundo tudo o que eu tenho pra dizer será dito de uma única vez num único golpe de ar por que você não desiste de toda a besteira e leva em conta os meus sonhos por que eu não sei o que esperar de você e não quero mais parecer forte e decidida. Tudo o que tenho pra te dizer não preciso mais repetir chega agora agora penso agora quero o contrário ser a busca ser o alvo e descansar. 
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Sexta-feira, Junho 13, 2008


Acordei decorando insultos pra você. Imbecil, insano, inconseqüente, estúpido, insensível, retardado, louco, sem noção, idiota, filho da mãe, egoísta, incrédulo, falso, puto, traidor, mesquinho, egoísta. Acordei pronta pra te contar todos os sentimentos mais sujos e escondidos que guardei nos últimos trinta dias. Levantei com raiva de você e do mundo. Sem crenças, sem amor, sem beleza. Hoje quis acabar com a sua vida, com a minha, com o que restava. Decidi fazer em pedaços cada parte de você. Ia pôr fim na minha dor de cabeça infinita e no seu sorriso sarcástico. Ia deixar você sofrendo muito mais do que eu. E ser egoísta também, mesquinha também, fria, inconseqüente, dolorosamente só. Hoje acordei decorando insultos. Ensaiei usar o telefone. Pegar um carro e ir até você e te cuspir cada frase decorada, com cara de louca, com olhos de ódio, com a língua afiada. Mas como todos os outros dias, tomei um banho quente, deixei o rosto vermelho, coloquei minha melhor roupa e resolvi te esquecer. Esquecer até o ódio. E, como todos os dias, todos os sentimentos fortes e matutinos desapareceram junto com uma lágrima escondida atrás dos óculos escuros às onze da manhã. 
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Quarta-feira, Junho 11, 2008


Dá pra sair? Vai, vai embora de uma vez. Me deixa. Não dá pra acordar todo dia e ver você do meu lado. Não posso mais. Ver os carros cinzas na rua e prender a respiração de medo de ser você. Não quero mais essa ameaça. Dá pra me deixar? Chega de memórias. Chega de você! (não) te quero, (não) te amo. Não é simples assim? Você pega suas coisas todas e sai. Vai. Não consigo mais viver do seu lado todos os dias vazios. Não consigo mais (não) atender teus chamados, (não) saber das suas histórias. Para mim é simples, (não) me importo mais. (não) Me deixa. 

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Segunda-feira, Junho 09, 2008


Um abraço forte, muito forte. A respiração em ritmo acelerado e combinado. “Assim não vale”. Dito isto, beijou-a. Foi antes do que esperava, mas muito depois do que deveria. Beijou-a como não fazia há anos, entorpecido pelo álcool, apaixonado pelo momento. Uma longa noite de atenção, de carinho, de lembranças de um tempo perdido que não sabe se terá novamente. Sabe que era o que queria, mas sabe que quer muito mais. Agora se encontra novamente com a falta que já estava aprendendo a lidar, ou pelo menos assim cria. Sozinha, de banho tomado, em frente ao computador em que passa as horas mais iluminadas do seu dia, espera de verdade relembrar cada belo momento que se perdeu por causa da vertigem da noite, do som pulsante, das luzes e das trocas. Não sabe o que será agora, mas sabe que está só, novamente. 

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Quarta-feira, Junho 04, 2008


Por algum motivo o dia é mais calmo quando você aparece cedo. Quando seu nome aparece, mesmo que silencioso, mesmo que escondido, mesmo que longe. Por algum motivo desconhecido, o dia é mais simples quando começa ao seu lado. Mesmo que isso só eu saiba, mesmo que o teu lado não seja mais meu e eu não tenha motivos verdadeiros para me alegar. Por razões irracionais, é sempre mais fácil com você. 

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Terça-feira, Junho 03, 2008


Um olho no celular. Fecha a porta. Sai. Essa imagem não some. Antes, toma seu último banho. Olha as paredes sujas de mofo que tantas vezes pensou em limpar e depois desistia porque essa não era sua função. Sua função. Pensou tanto nisso. Pensou o que deveria e o que não deveria fazer e antes de voltar a ser a mesma pessoa de antes, cansou e deitou. Ia ser outra – mesmo que doesse. Se entregou ao há de vir e hoje de manhã, quando pensava que tinha feito tudo errado, lembrou que na verdade foi isso que sempre quis ser. E mais. Queria ter morado lá, limpado as paredes, as panelas, o quarto sujo de pó. Voltaria se pudesse e faria tudo. Faria o almoço. Ao contrário do que quer pensar, não há arrependimento. E nem ódio, como acha que tem às vezes, como quer ter para poder esquecer cada belo momento que projetou para o futuro. As viagens, as noites de domingo, os filmes nas poltronas que se juntam. É isso mesmo. Quer esquecer o futuro. Deveria querer, na verdade. Mas, os planos eram belos e bons. Eram justos, eram possíveis. Possíveis se não fosse a interrupção do tempo. Um lapso, uma massa de ar, um bolo de fubá. Pára. Google. Trabalha um pouco. Um olho no celular. Lembra do lençol que não cobria a cama por inteiro e quanto aquilo era chato. Lembra dos copos de requeijão e da última vez que passou pela porta dupla que separava dentro e fora. Saiu. Não tinha mais o que fazer com as chaves. Elas que estavam todas juntas, como resistiu fazer antes, como quis que fosse sempre. Deixou lá, à espera de que o mundo retorne seus sentidos. Não guardou as roupas, não escondeu os livros, as fotos, as cartas que nunca teve. Um olho no celular. Três remédios pela manhã, ginástica e banho de sol. Não é melhor agora, mas continuo.