quarta-feira, 22 de julho de 2009

Migalhas sobre a mesa

Tem umas coisas que se aprende na vida sem saber quando nem de que jeito. Como o peso que devemos usar nas mãos para espantar as migalhas do bolo sobre a mesa sem manchar a toalha nova da mãe. É uma arte, um dom de pessoas delicadas que, muitas vezes, não sabem que o são, mas são, de fato. Tem outras coisas na vida, que por mais simples que sejam, são impossíveis de ser aprendidas, mesmo que treinadas, mesmo que com muitas tentativas. Não é privilégio dos delicados, nem dos bem-nascidos. Tem coisas impossíveis. Você sabe o que, não precisamos de exemplos, não é? Ou você já aprendeu isso também?

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Meu meu meu


Minha cabeça vazia. Minha garganta doendo. Minhas costas estranhas. Meu cabelo em pé. Minha cara franzida. Meu esmalte descascado. Minha internet lenta. Meus amigos longe. Meu telefone mudo. Meus sonhos esquecidos. Minha música tocando. Meu dia normal.


quinta-feira, 9 de julho de 2009

Estou bem

Às vezes, uma simples conversa resolve tanta coisa. Acordei hoje sentindo uma bobeira que não sentia há meses. É claro, falei o que não devia, não fui prudente e muito menos orgulhosa. Mas, sinto-me bem. Bem como deveria estar todos os dias, não fosse a fugacidade dessa pequena alegria. E mais feliz porque sei que é só por hoje. Amanhã, acabou. Amanhã, a verdade reaparece e nossa conversa já não vai adiantar muito para me deixar contente. Mas, e daí, não é mesmo? Hoje, agora mesmo quando é feriado por aqui e eu trabalho num belo dia de sol, estou bem, contra tudo o que é permitido, estou bem.

domingo, 5 de julho de 2009

Dias intermináveis


Estava acostumada a ficar calma depois de apenas um telefonema. Ela ligava e dizia que a barriga doía de um jeito estranho, sem nenhuma explicação e, misteriosamente, ela se tranquilizava. Isso não era o melhor que ele sabia fazer, é verdade. Sempre teve pouca paciência e muita auto-estima para entender porque ela sofria tanto com coisas tão pequenas. Mesmo assim, dizia as frases mais clichês e, voilà!, colavam. Talvez fosse o jeito sempre seguro até pra dizer que tudo ia dar certo pra ela. E sempre deu. Nunca houve uma grande perda, um grande erro, um grande fracasso. Assim como agora, quando ele não telefonou para assegurar que tudo estava controle, tudo continua dando certo.
Muitos dias de silêncio. Muito, muito mais do que pensou que poderia suportar. Dias intermináveis, dias anuveados, frios, insones, terríveis.
E ela, tadinha, pensou que dele só sentia falta do apoio incondicional. No fundo, sente falta de cada música que não descobriram juntos, de cada viagem não feita, dos beijos desperdiçados antes de dormir, dos momentos esquecíveis, de cada frase tola, de cada entrega na porta de casa com cara amarrada, dos telefonemas sem razão, dos planos sobre a vida, dos comentários maldosos, dos dias de raiva. Para seu azar, até disso.