sábado, 25 de junho de 2005

2005

Quarta-feira, Junho 29, 2005


Imediatamente após deixá-lo sentiu como se tudo caísse. Não tinha brigado, não tinha desistido, não tinha deixado de falar e sentia que algo faltava. Faltava ele, entendeu quando entrou em casa. Aquela que era cada vez menos sua não compartilhava da companhia do dia. Suas paredes brancas de velhos quadros pendurados não acariciavam seus olhos. O banho foi gelado e nem o pulo do cão alegre com o retorno era o bastante para levar para longe todas as vontades não concebidas que a haviam encontrado. Nela, agora, saudade. Palavra sem explicação, a ausência de ser, a incomunicabilidade da alma. 
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Sexta-feira, Junho 24, 2005


Para VOCÊ pensar: 
"ela é mais sentimental que eu, então fica bem se eu sofro um pouquinho mais..." 

(e o show ontem foi lindo!) 

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Terça-feira, Junho 21, 2005


Não volte. Não quero voltar. Não quero não-ter de novo. Há tempos declarei o fim, depois de um ritual em que incinerei suas roupas, as minhas e o que aconteceu comigo depois de você. Agora essa aproximação que você propõe é como uma sessão de mesa branca, da qual eu não vou participar. A tua lembrança já me doeu muito, sentia falta dos teus cabelos nos meus dedos, das mãos, do teu jeito de ver o mundo. Achava que eu era a culpada, que o erro era meu, que eu não era boa o bastante, não me esforçava o bastante, não queria o bastante. Depois, só depois de você é que vi que não preciso de esforço, que pode ser fácil, pode ser bom, pode ser aberto, inteiro, transparente. E que eu sou melhor do que aquilo, sim. Eu preciso falar e você não, nunca. Você nunca precisa de nada. Não quero medir meus atos, pensar no que você vai pensar, respeitar seu espaço intransponível, estar junto com uma ausência que você não supre. Eu não quero voltar. Não quero tentar, não me proponha, não se chegue, não há espaço pra você aqui. Eu não quero me lembrar das tuas conversas e ponderar as minhas escolhas. O monstro morreu no quarto ao lado. A chave foi perdida e eu saí pra tomar um ar nessa tarde fria que fez hoje. Voltei gelada e já tinha esquecido de você.
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Quinta-feira, Junho 16, 2005


q. raiva 
que raiva 
que raiva! 
Que raiva! 
Que Raiva!! 
QUE RAIVA!! 
QUE RAIVA!!! 

 

E não passa. 

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Quarta-feira, Junho 15, 2005


Vi "Salt" hoje, e isso mexeu comigo. Mexeu como poucas cenas já puderam mexer. Parecia o sentimento que esse meu blog tem, muito melhor, mais claro e no palco, com uma única atriz em cena gemendo de dor, se contorcendo em busca de seu amado, falando em italiano que "depois lhe direi que te espero embora não se espere quem não pode voltar". Em italiano! Eu que não entendo nada além de ragazzio e amore. O suficiente para abrir outros poros e chorar, copiosamente, chorar como uma menina que assiste Rei Leão pela primeira vez. Queria conseguir reproduzir todo o texto. Queria contar como foi ver uma chuva de sal, literalmente, como foi ouvir aquela música, como foi me purgar ali e sair pisoteada. É sim uma volta ao "diário", mas e daí? Quero chorar de novo ao lembrar dela em cena, ao lembrar da minha dor, da minha vontade de estar no palco, da minha incapacidade de ter escrito algo tão bom quanto isto. E quero ler esse texto mais uma vez, sempre um pouco mais. 


Gostaria de lhe escrever uma carta, uma carta verdadeira, atravessando os estratos de lava e de argila que a vida foi sedimentando sobre todas as coisas. Lhe diria que continuo sendo eu e que conservo sonhos. Lhe diria que ainda amo, embora os sentidos estejam cansados. (...) 

Procurei você, meu amor, em cada átomo seu que está disperso no universo. 
Recolhi quantos deles me foi possível, na terra, no ar, no mar, nos olhares e nos gestos dos homens. (...) 

Lembra-se daquela senhora especialista em Tchekov... 
Lembra da explanação que deu sobre as últimas palavras do escritor russo? 
Ficamos ambos maravilhados. 
Nem eu nem você sabíamos que Tchekov ao morrer tivesse dito: Ich sterb! Eu morro! 
Pois é, morreu numa língua que não era a sua. 
Que estranho, amou em russo, sofreu em russo, odiou em russo, viveu em russo e morreu em alemão.(...) 

Aconteceu de modo natural, assim como surde a lua ou como neva 
Alguém se aproximou nas pontas dos pés me tocou na nuca e sussurou: 'cabelos de mel...' 
Virei e te beijei. 
Depois com o indicador na frente dos lábios que tinham te beijado, sussurei: psssiu. 
E te beijei novamente. 
Pensava em você todos os dias. E as poucas horas do ano em que podia vê-lo naquele hotel de montanha eram quase um suplício. 
E você era feliz, entretanto. 
Porque as pessoas podem ser felizes nos seus entretantos. Eu também. (...) 

Te procuro no resplendor desse mar porque você o viu, e nos olhos do dono da mercearia, do farmacêutico, do velhinho que vende café gelado, naquela pracinha, porque talvez eles tenham visto você. 
Estas coisas também coloquei no bolso, este bolso que sou em mesma e os meus sentidos. 

Meu amor, me desculpe se ainda o chamo assim como chamava naquela época, depois de todos esses anos, mas não sei mesmo como chamá-lo. 
Como é que uma pessoa se dirige ao homem amado que disse ' tchau, ate amanha', e nos abandonou sem deixar sequer um bilhete de explicação? 
Porque você continuou sendo o meu amor por toda a minha vida. Os raros homens que tive foram encontros furtivos para satisfazer a carne, porém todas as noites quando eu tentava pegar no sono, abraçando o vazio da minha cama solitária, eu dizia "meu amor" e imaginava que voltaria a viver o milagre de ter você entre os braços.(...) 

Gostaria de lhe escrever uma carta verdadeira, atravessando os escuros estratos de lava e de argila que a vida foi sedimentando sobre tudo. 
Lhe diria que continuo sendo eu e que conservo sonhos. 
A magnólia floresce. E também as crianças crescem. 
Lhe diria: o tempo não espera. É feito de gotas. 
Basta uma gota a mais para que o líquido se derrame no chão, se expanda e se perca. 
Lhe diria que ainda amo, embora os sentidos estejam cansados. 
E que preparei as palavras para a minha lápide: 
poucas, porque entre a data do meu nascimento e a que será a da minha morte todos os dias são meus. 

Seja o sal da terra, seja o sal do mar. 
Seja o sal do suor de todo o meu amor. 
Seja o sal sob o sol, seja o sal sobre a ferida. 
Seja o sal das lágrimas, o sal da minha vida. 

E depois lhe direi que te espero embora não se espere quem não pode voltar. 

Todas essas ilhas eu percorri, todas procurando por você. 
E esta não é a última. Quem poderia continuar a procurá-lo senão eu? 

(Salt - direção de Eugenio Barba, textos adaptados de Carta ao Vento e Está Ficando Tarde Demais, de Antonio Tabucchi. - e aí, Lielson, conhece esse?) 
!!! 

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Domingo, Junho 12, 2005


Você me deixou. Voltei pra casa sozinha, como sempre estive. Só. Não há nada que eu faça que me deixe mais preenchida. Você não conseguiu isso, nem nunca tentou. Pra você, eu não tenho problemas grandes demais, não sofro demais, não aproveito demais, não sou nada além da média. Por que eu dei essa importância pra você? Porque é assim que eu sou, pra você, alguém que valoriza demais as pequenas coisas. Mas, escuta, isso tudo foi importante pra mim. Foi divertido, foi proveitoso, foi eu e você juntos, o tempo que foi necessário. Eu não quero que essa solidão continue. Não quero esperar que você solucione um problema que é meu. E sim! Eu tenho as minhas dores. Não importa o quão grandes elas são, não importa se pra você é tudo ridículo: essa sou eu, e em mim dói. Dói ficar longe de você. Abrir a porta de casa e falar tchau. Dói ouvir você gritar. Saber que prendi tua sombra no armário e nunca mais vou conseguir usar as chaves. Eu quero que você fique. Quero que bata na porta e me aperte. Por que você nunca me beijou? Eu coloquei o meu vestido vermelho. Pus brilho nos lábios, nos olhos, nas maçãs do rosto. Você disse boa noite sem olhar pra mim. Por favor, não vá, mas olhe pra mim. Olhe pra mim. Eu quero você. Quero tudo de você. Quero teus defeitos, as coisas que me irritam, a minha vontade de te deixar, eu quero sentir isso também. Quero te desejar como hoje desejei. Quero ouvir cada história que você repete sem saber. Quero estar na tua vida, quero que você volte pra minha casa, durma na minha velha cama, afague meu cão. Volta. Eu quero estar insatisfeita com você. Volta. Bata na porta e só hoje não fale comigo, me olhe nos olhos, pega na minha mão, seja clichê, beija a minha testa, meu nariz, minha bochecha, minha boca. É pedir muito? Eu quero você. Eu quero voltar atrás, quero ser um só, o tempo todo, até logo.
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Domingo, Junho 05, 2005


A tarde, um telefonema mais que inesperado. "Oi, Má, é o Wilson." Um longo silêncio que traz à memória a imagem daqueles que foram dois velhos conhecidos. Um antigo silêncio entendido. "Surpresa." Não pôde esconder o tudo de sentimentos que invadiu seu corpo. Tremeu um pouco. Num segundo iluminador, decidiu que não esconderia nada e que, depois do "alô", estava disposta a ser justa com suas vontades, encarar esses pequenos medos de frente, enfim, esquecer a Má-bundona que reinava. "Tava com saudade de você", ele repetiu. Ela desabafou. Achou que era seu direito - depois da tarde interrompida - de dizer que estava chateada e blablabla. Ele achou-a surreal, seja lá o que isso quer dizer. Silêncios e pausas e velhas perguntas e novas histórias e risadas e interrupções e mais silêncios e saudade e necessidade de ir embora e nenhuma vontade de voltar atrás. Tranquilidade depois de vinte minutos. Ela, feliz de conversar, daquela voz no telefone ser significativa mas não doer, não trazer vontade de mudar de vida. Ele, não sei. Ele ligou num fim de uma bela e caricata tarde de sábado, disse que estava enrolado no cobertor. Ele perguntou da vida, contou da sua, disse dos planos e anotou o novo numero de telefone. Ela mandou ele ligar de novo e precisou ir. Desligou o telefone aliviada, ele virou pro lado e foi dormir. "Nada de novo, debaixo do sol." E a vida seguiu. 

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Pensamento do dia: 
preciso perder essa barriga!
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Quinta-feira, Junho 02, 2005


Outras cartas já foram escritas. Outros bilhetes já foram deixados. Outros beijos, outros cabelos, outras memórias. E agora, você não é a única, nem a última, nem diferente. Você repete padrões, você se repete. Não há nada novo nisso. Não fale mais, não escreva mais. Escreva. Em outra língua, palavras novas, inventadas pra mim. Escreva de um sentimento novo. Escreva o que eu te provoco. Seja direta, não quero mais histórias, não quero mais outras pessoas. Ponha "eu". Diga meu nome. Grite. Faça algo pra mim. Só. Eu já vi isso que você aponta, cansei. Não seja delicada, não pense de novo, não pense mais. Seus atos planejados, sua vida planejada, seus beijos planejados. Isso não é novo. Não é nada. Você é pouco, insuficiente, insapiente. Eu já vi outros iguais a você, já conheci outros. Você é como todos. Fala como eles, escreve igual. Eu fico com você. Custa quase nada pra mim, é indiferente. Mas. Faça algo pra mim. Mas me deixa. Você não é novidade. Outras cartas já foram escritas. Entenda.