sábado, 15 de agosto de 2009

Tudo como sempre



Ligou pra ela numa noite qualquer e confessou o que todos sabiam. Não tinha acabado. Nada mudou na sua vida, não refez os planos nem imaginou que a felicidade poderia ter voltado. Era um desses momentos em que a vida pode mudar radicalmente. Não é um dia especial, não é um dia de arco-íris, nada é diferente. O grande dia nunca é especialmente anunciado. A vida que não aconteceu era iluminada. Um casal de velhinhos, uma fotografia na parede, filhos correndo pela casa atrás dos cachorros, filmes no fim do domingo, histórias inspiradas neles, músicas dentro do carro, telefonemas sem sentido, almoços intermináveis. Ele sempre correndo, ela sempre esperando. O futuro seria perfeitamente defeituoso. Mas ele ligou pra ela naquela noite qualquer e assumiu que só com ela se sentia bem, que ainda estava perto, que sentia muito. Duas horas depois, voltou para a sua vida como se fosse fácil escolher o comum, viver o medíocre. Voltou para sua vida mais ou menos e achou óquei. Despedir-se nunca foi tarefa difícil para ele, até ali. Por um momento... Não. Não sabia que aquele era o momento, então virou as costas e foi viver os últimos 35 anos da sua vida longa e insosa. Nunca soube o que houve com ela exatamente, mas há uns anos lhe contaram que ela estava voltando de uma longa viagem e dizem que não tinha envelhecido um ano sequer.

Nenhum comentário: