Estava acostumada a ficar calma depois de apenas um telefonema. Ela ligava e dizia que a barriga doía de um jeito estranho, sem nenhuma explicação e, misteriosamente, ela se tranquilizava. Isso não era o melhor que ele sabia fazer, é verdade. Sempre teve pouca paciência e muita auto-estima para entender porque ela sofria tanto com coisas tão pequenas. Mesmo assim, dizia as frases mais clichês e, voilà!, colavam. Talvez fosse o jeito sempre seguro até pra dizer que tudo ia dar certo pra ela. E sempre deu. Nunca houve uma grande perda, um grande erro, um grande fracasso. Assim como agora, quando ele não telefonou para assegurar que tudo estava controle, tudo continua dando certo.
Muitos dias de silêncio. Muito, muito mais do que pensou que poderia suportar. Dias intermináveis, dias anuveados, frios, insones, terríveis.
E ela, tadinha, pensou que dele só sentia falta do apoio incondicional. No fundo, sente falta de cada música que não descobriram juntos, de cada viagem não feita, dos beijos desperdiçados antes de dormir, dos momentos esquecíveis, de cada frase tola, de cada entrega na porta de casa com cara amarrada, dos telefonemas sem razão, dos planos sobre a vida, dos comentários maldosos, dos dias de raiva. Para seu azar, até disso.
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