segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Uma lista de possibilidades

De todos os momentos em que passou sem estar do lado dele, o que ela queria, sempre, era compartilhar. Não sabia – já soube, mas cansou de tentar renomear – o que é que era aquela vontade. Pensou - chegou a ligar para um psiquiatra - que era obcecada, mas desistiu quando viu uma matéria na televisão que explicava que stokers e obsessivos já demonstraram esse tipo de reação em varias oportunidades na vida antes de começar a praticar atos mais radicais - violentos. E ela também não era assim, cega. Achava que tinha um potencial violento, mas não tinha culhões o bastante para usá-lo. Sabia do entorno e fazia um esforço grande para se manter longe da fonte de sua ansiedade o quanto podia. Mas em dias comemorativos, tudo ficava mais difícil. Quando ela recebia uma boa noticia ou quando as coisas não iam muito bem, o primeiro nome que vinha na sua cabeça era o dele. Nome que ela sempre achou sonoro, que gostava de ouvir mais do que de falar. Não, ela não o amava, mas não sabia se poderia um dia sentir cumplicidade tão grande com outra pessoa. Aquela vontade imensa de... compartilhar. Hoje, pegou no telefone inúmeras vezes pra pedir, por favor, não deixe de falar comigo. Queria explicar o quanto sentia sua falta e quanto, de certa forma, só sabia dizer que o amava, mesmo que não de uma forma romântica ou sonhadora. Nunca soube bem dar nome pras coisas, mesmo que procurasse nos romances que lia as palavras certas para os sentimentos, mas nunca aprendeu. Identificava-se com as emoções mas não se sentia pronta para usar o mesmo nome para o que sentia. Ele era seu melhor amigo, a pessoa que mais confiava no mundo, alguém para rir junto e dizer que estava de saco cheio do Natal - ou já era Ano Novo? - e da família e ele não iria julgá-la. Ou iria, não sabe mais. Os dias se passaram rápidos demais e eles não se falam a tanto tempo que talvez ele tenha mudado, por que não? Todos mudam, o tempo todo, pelos menores motivos, talvez ele não estivesse imune a isso. Talvez quando ela ligasse e dissesse que só queria saber noticias dele, contar que ia se mudar, que estava feliz se não fosse pela ausência dele, talvez ele não lembrasse mais das suas histórias e seu humor esteja diferente. Quem sabe uma mulher ciumenta esteja ao seu lado da cama e ele precisa desligar logo. Talvez ouça um choro de bebê ao fundo e talvez seu (o dela, mas podia ser o dele) mundo desmorone. Ainda assim, ela vai passar todos os dias da sua vida desejando seu bem, querendo que ele encontre a tão famosa felicidade do mundo adulto em que ele é o protagonista e ela apenas uma figura que ocupa os seis minutos iniciais de um filme espetacular. Ou talvez ela também já não seja assim tão boa e o choro do bebê ou a voz da mulher a deixem com coragem para agir de forma irracional e começar a ser outra, sem boas ações e com um coração bem duro. Por enquanto, apenas, ela sabe que não sabe e apenas escreve uma lista de possibilidades. Uma tabela com desejos que vai espalhar na chuva que começa a se formar lá fora.

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